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Excesso de treinamento físico

02 de Janeiro de 2019 às 10:52

Foto: Pixabay

Como tudo na vida, o que é demais faz mal. O mesmo acontece com o excesso de exercício, que pode levar aos distúrbios fisiológico e psíquico, caracterizando a síndrome do overtraining. Os primeiros relatos desta síndrome ocorreram na década de 1970, sendo detectada inicialmente em atletas expostos a excesso de treinamento, mas pode atingir qualquer pessoa. Atualmente, o principal grupo de risco são os freqüentadores de academias, que se submetem as intensas cargas de treinamento, repetitivas e prolongadas, em busca do aperfeiçoamento da estética corporal. Querem se transformar em verdadeiros Adonis, exibindo a perfeição de corpos musculosos e bem esculpidos.

Como tudo tem seu preço, esses indivíduos podem apresentar os sinais mais visíveis da síndrome, como ansiedade, irritabilidade, mau humor, distúrbios do sono e da alimentação. Por isso, existe uma diminuição de desempenho no trabalho, cansaço e falta de concentração. Na maioria das vezes, os sinais mencionados acabam repercutindo no convívio social e profissional. Assim, o excesso de treino sem tempo adequado de recuperação provoca a chamada supercompensação, com mudanças importantes no funcionamento do organismo. Entre elas pode-se observar baixa de testosterona (hormônio masculino, aumento do cortisol, elevação das proteínas musculares no sangue, diminuição do estoque de açúcar (glicogênio) nos músculos, etc.

Isto ocorre em 50% dos jogadores de futebol semiprofissionais, 65% dos corredores de longa distância e 21% dos nadadores de equipes nacionais. Recentemente, “o distúrbio passou a ser conhecido também como vigorexia, em alusão a frequentadores de academia que extrapolam no treinamento e se submetem a uma sobrecarga de exercícios em busca de um corpo mais vigoroso”. O distúrbio atinge principalmente o sexo masculino, ao contrário da anorexia (falta de apetite), que é mais frequente nas mulheres.

Em ambos os casos, a pessoa desenvolve uma imagem deturpada do corpo e adota medidas incorretas para conquistar o físico considerado ideal, sem nunca satisfazer. O impulso inicial da maioria das pessoas que busca uma academia é estético, depois é que vem a preocupação com a saúde. Acontece que o padrão atual de beleza é extremamente severo e quando a genética não ajuda, o indivíduo se submete a uma carga brutal de exercícios.

Os homens jovens são os mais atingidos pela síndrome do overtraining, porém as mulheres também podem ser afetadas. Neste caso recebe o nome de “tríade da mulher atleta”, exibindo os sinais típicos do sexo masculino, acompanhados de distúrbios menstruais, principalmente atraso do ciclo. As crianças também são acometidas, quando aumentam em excesso as tarefas adicionais do cotidiano, como aulas de idioma, informática, balé, futebol, natação, etc.

No estilo de vida atual as crianças ficam ocupadas o dia inteiro. podendo desenvolver os mesmos sintomas dos adultos, porém com capacidade de recuperação inferior. Em geral tais indivíduos não relacionam o que sentem com o excesso de exercício, pois são pessoas aparentemente saudáveis. Outra dificuldade no diagnóstico é a falta de exame específico para identificar o overtraining, dependendo sua caracterização da experiência do profissional. A verdade é que uma grande parcela da população, principalmente das classes mais abastadas, estão exagerando nos exercícios, que acabam levando prejuízos para a saúde, em vez de trazer os benefícios esperados. Isto é, boa forma física, disposição para o trabalho e lazer e, portanto, melhor qualidade de vida.

Artigo extraído do livro Doenças - Conhecer para prevenir (Ottoni Editora), de autoria do médico Mário Cândido de Oliveira Gomes, falecido aos 77 anos, no dia 6 de junho de 2013.