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Educação financeira na escola

26 de Novembro de 2019 às 00:01

Catarina André Hand, com Liana Rose de Lima Augusto Leandro

Ao ver aquelas cédulas de brinquedo as crianças já ficaram eufóricas e comemoraram, pois sabiam que iríamos trabalhar com o sistema monetário e o mercadinho.

Foi muito interessante observar que algumas delas que enfrentaram dificuldades em atividades anteriores envolvendo os algoritmos das operações fundamentais, rapidamente contavam as cédulas que tinham recebido, separando-as, ora por ordem crescente, ora fazendo montinhos de dez em dez, e respondiam com facilidade as intervenções dos estagiários.

E o que é o mercadinho? Colocamos as embalagens dos produtos dos variados setores de um mercado à disposição, numa grande mesa, e as crianças foram até lá com suas “cestinhas” escolher o que queriam. Passaram pelo caixa, pagaram e receberam o troco.

Montado o mercadinho, lá se foram a “gastar seu dinheirinho”, levando em mãos uma lista (escrita por eles mesmos). Ao verificar o valor dos produtos usaram o cálculo mental, papel, lápis e estratégias pessoais, a fim de concluir se o dinheiro disponível seria suficiente para comprar o que eles haviam pegado. Haveria troco? Teriam que devolver alguma mercadoria?

Os questionamentos que os professores fizeram às crianças foram fundamentais para que houvesse compreensão, mudança e aprendizado. Se fosse preciso voltar ao mercado devolver o produto que era muito caro, escolher outro de menor valor para que o dinheiro que tinham fosse suficiente ou sobrasse troco, o professor estava ao lado, fazendo as intervenções necessárias.

Notei que uma das crianças usou todo seu dinheiro, foi pegando tudo o que via pela frente, sem critério algum. Quando perguntei sobre o motivo que a levava a fazer isso, me respondeu que seria sua única oportunidade de gastar tudo o que tinha, comprar tudo o que quisesse. Questionei sobre nosso combinado anterior que deveria sobrar troco e ela não deu o menor valor, sua satisfação estava em encher as sacolas com os produtos do mercado, mesmo os não solicitados pela atividade, mesmo sendo apenas um faz de conta, seu prazer era gastar...

Nós, educadores, podemos ajudar nossos alunos a pensar sobre o consumo consciente, descarte, acumulação, e sobre guardar algo para o futuro e realizar sonhos e desejos.

Não fomos educados financeiramente para planejar, guardar, poupar... Esses assuntos estão em pauta hoje e a escola não pode se eximir dessa responsabilidade. Podemos planejar ações como a do mercadinho e iniciarmos uma nova abordagem como poupar, planejar e gerar consumidores conscientes.

Trabalhando com o dinheiro de forma lúdica, colocando outras temáticas diferentes das apresentadas até então (comprou, vendeu, troco, parcelamento da compra, porcentagem), podemos ajudar as crianças a pensarem no futuro e por conseguinte, seus pais serão influenciados por elas a serem consumidores e poupadores consistentes.

A consciência financeira vai além de se ter cofrinho onde se coloca as moedas. Ao apagarmos a luz, fecharmos a torneira para escovar os dentes e o chuveiro para ensaboar os cabelos, mostramos que estamos poupando.

Podemos ajudar nossos alunos e a nós mesmos a olhar além do dinheiro: o sonho. A mídia gera uma insatisfação muito grande em cada um abusando das propagandas, bombardeando nossos pequenos com excessivos “compre, compre, compre”, “tenha, tenha, tenha”. É muita informação e muito apelo ao consumismo desenfreado.

Vamos procurar incluir a abordagem educação financeira em nossas aulas do Sistema Monetário e de leitura. Tenho certeza que, assim fazendo, no futuro, colheremos uma geração mais consciente e feliz.

Catarina Hand é mestra em Educação, professora e coordenadora do Subprojeto PIBID/Pedagogia na Universidade de Sorocaba. Liana Leandro é pedagoga e professora-supervisora do Pibid/Pedagogia na EE Dr. João Machado de Araujo, em Sorocaba