O filme narra acontecimentos vividos por seis taxistas. Crédito da foto: Divulgação

Nildo Benedetti - [email protected]

“Direções”, dirigido pelo búlgaro Stephen Komandarev, foi estreado em 2017 e mostra um panorama geral econômico e social da Bulgária contemporânea.

O filme narra os acontecimentos vividos por seis taxistas e começa em uma manhã e termina 24 horas depois. Eles dirigem seus carros por Sófia, na capital da Bulgária. A trama não é nova no cinema. O norte-americano Jim Jarmusch dirigiu o filme “Uma noite na Terra”, apresentando cinco taxistas em cinco cidades do mundo. O iraniano Jafar Panahi usou a mesma fórmula em seu filme “Taxi”, em que um motorista de Teerã -- o próprio diretor -- depara com os problemas de vários clientes. O também iraniano Abbas Kiarostami dirigiu “Dez”, em que uma mulher, dirigindo seu carro, conversa com várias mulheres a quem dá carona.

O primeiro taxista de “Direções” é um homem cuidadoso com a filha, proprietário de uma pequena empresa atolada em dívidas bancárias e que, desesperado, acaba por matar um banqueiro. Em todos os táxis do restante do filme esse assassinato é noticiado pelo rádio com os habituais comentários sensacionalistas, com ouvintes emitindo opiniões diversas -- algumas políticas, outras de pesada carga xenofóbica etc., que dá um panorama sobre as ideias que vigoram entre a população.

Durante seus dias na universidade, uma motorista de meia-idade deteve o assédio de um homem e sua vida foi radicalmente modificada para pior depois do incidente, porque o homem rejeitado, em represália, passou a prejudicá-la. Ele agora é rico, mora na Áustria e vem a negócios para a Bulgária. Involuntariamente, pega o táxi da mulher que ele assediara.

Outro taxista vê um homem pronto a cometer suicídio, jogando-se de uma ponte; o homem é um professor de filosofia que fala sete línguas, que tem mulher e filhos e que é motivo de chacota, por sua condição econômica e desinteresse dos alunos na matéria que leciona. O taxista habilmente inventa uma história complicada para dissuadi-lo da decisão de suicidar-se.

Um sacerdote ortodoxo que, durante o dia, exerce suas funções eclesiásticas, à noite vê-se obrigado a dirigir um táxi para aumentar a renda. Ele mantém uma discussão sobre Deus com um padeiro que vai ao hospital para um implante de coração.

“Direções” é um filme que apresenta a realidade da sociedade pós-comunista da Bulgária. Mostra pessoas escolarizadas exercendo profissões que exigem muito pouca qualificação, ao lado de indivíduos que, por meios de duvidosa legalidade ou moralidade, são bem sucedidos economicamente. Vemos pessoas que emigraram em busca de melhores condições de vida, outras que querem emigrar e não podem. E outras que a despeito da corrupção e da desigualdade econômica e social, permanecem no país porque acreditam que ele ainda será melhor. Mas, a luta pela sobrevivência, a desigualdade econômica, o conflito de ideologias, a rejeição ao emigrante, o convívio de pessoas individualistas e insensíveis ao lado de indivíduos honestos solidários com os outros, são as noções presentes em Direções que podem ser estendidas à maior parte dos países.

Serviço

Cine Reflexão

“Direções”, de Stephen Komandarev

Hoje, às 19h

Fundec (rua Brigadeiro Tobias, 73)

Entrada gratuita