Buscar no Cruzeiro

Buscar

De pequenas cidades e grandes amigos

17 de Abril de 2021 às 00:01

De pequenas cidades e grandes amigos Crédito da foto: pixabay.com

Edgard Steffen

De pequenas cidades e grandes amigos

Você vai encontrar aí coisas interessantes

para se lembrar dos tempos de antanho

(Recado recebido em e-mail)

Do Dr. João Batista Castanho Sobrinho recebi os três volumes do e-book “Guareí, nossa vida e raízes”. A obra revela sensibilidade, fidelidade e exatidão. Sensibilidade de cristão dedicado à família. Fidelidade digna de sobrinho do historiador Aluísio de Almeida. Precisão de engenheiro formado pelo ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica) uma das melhores faculdades de engenharia da América Latina.

Castanho é meu coetâneo. Apenas um ano mais novo. Tive a honra de convívio e amizade com o Tista (da intimidade familiar) ou Dr. Castanho (do ambiente profissional). Morávamos no mesmo bairro; separava-nos um quarteirão. Nossas esposas eram amigas e trabalharam na mesma escola, em Osasco. Nossos filhos estudaram no mesmo colégio. Militamos no movimento rotário no mesmo clube. Para nossa formação profissional, tivemos que sair de nossas cidades de origem. Estudamos em escolas públicas. Cursamos simultaneamente o científico (colegial) e normal (magistério); este último Castanho não terminou porque foi convocado para o Tiro de Guerra. Enquanto sou reservista de 3ª categoria, ele é Aspirante a Oficial da Reserva Técnica da Aeronáutica

Ainda não concluí a leitura, mas, conforme promete o e-mail supra, tenho encontrado coisas interessantes que me fazem lembrar tempos de antanho. O cenário descrito no capítulo 35 “A lida com o porco” (volume 2 - “A Nossa Vida”) é muito parecido com artigo que escrevi para este jornal em fevereiro de 2006 (“Nos tempos da manteiga”). Mudam apenas o local e a cor dos cabelos dos lidadores. Castanho descreve as lidadoras de Guareí, álacres palradoras, diferentes das sisudas germânicas indaiatubanas. Mas, a azáfama é a mesma. O aproveitamento das carnes, a conservação em latas com a própria banha, os embutidos resultantes da lida, a defumação realizada nos fogões a lenha, são procedimentos similares nos dois municípios. Pequena diferença no preparo do chouriço: em Guareí, devidamente embutido, enquanto no Capão Grande (Indaiatuba) o schwarz und sauer era cremoso e servido em prato fundo.

Guareí e Indaiatuba, das nossas respectivas infâncias, eram pequenas cidades paulistas com grande atividade rural. Daí a semelhança dos costumes como no episódio relatado. Ambos municípios receberam imigrantes alemães. Guareí os acolheu há mais tempo (1829); professavam o catolicismo. Para Indaiatuba vieram germanos da segunda geração; eram brasileiros e luteranos. Descendiam de holstenienses, prussianos, suecos e suíços trazidos para a fazenda Sete Quedas (Campinas). À medida que pagavam as dívidas da migração, foram se agrupando num bairro de Campinas, a que denominaram Friedburg (Castelo da Paz). Quando progrediam financeiramente, seus filhos se casavam e adquiriam terras em Montemor, Elias Fausto e Indaiatuba. Suíços católicos fundaram a comunidade de Helvécia, de grande importância neste último município.

Hans Steffen, o patriarca de minha família, aportou em Santos aos 16 de agosto de 1856. Veio com a família do irmão mais velho. Sabia que eles andaram oito dias, subindo a pé a Serra do Mar. A leitura do texto de Castanho, ajudou-me a entender como Maria (cunhada) e a sobrinha (Carolina, 2 anos) conseguiram vencer a muralha representada pela serra. Na descrição do ilustre guareiense, homens subiam a pé; mulheres e crianças no lombo de mulas.

Outra curiosidade, a primeira comunidade evangélica instalada em Guareí era de confissão presbiteriana (1887). Outras denominações chegariam nos anos 40. Também os presbiterianos foram os primeiros evangélicos a se instalar em Indaiatuba. Os luteranos se organizaram em igreja nos anos 50.

A vida e os interesses profissionais afastam amigos. A pandemia os isola. Livros servem para reaproximá-los. Obrigado João Batista Castanho Sobrinho! Continuarei garimpando coisas interessantes nos seus belos textos.

Edgard Steffen é escritor e médico pediatra.