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China, São Paulo, Europa: Um freio nos descartáveis

29 de Janeiro de 2020 às 00:01

Sandro Donnini Mancini

O ano de 2020 começou com uma notícia bem interessante para a área de meio ambiente, em especial para os resíduos sólidos (lixo). No dia 20 de janeiro, a China aprovou uma lei que tenta colocar um freio no uso de produtos descartáveis.

Trata-se de um plano de 5 anos, que começa atacando pratos, talheres e sacolas descartáveis feitas de plástico oferecidos por grandes empresas e cidades, mas que vai abranger as menores com o tempo. Uma semana antes, foi promulgada uma lei municipal parecida na cidade de São Paulo e, ano passado, na Europa.

Cidades importantes ao redor do mundo e outros países seguem o embalo. As sacolas plásticas já entraram na mira de administradores públicos e legisladores faz tempo. Há menos tempo, foram os canudos. Agora decidiram generalizar para “descartáveis”.

Mas procede a celeuma em torno dos plásticos descartáveis? Não é um exagero de gente que quer surfar na onda do ecologicamente correto? Sim para a primeira pergunta e não para a segunda.

É fato: estamos usando e abusando dos descartáveis. Sim, eles ajudam, melhoram questões como higiene e conforto e todo mundo fica feliz: a indústria vende mais para o comércio, o comércio vende mais para a população e a população se sente bem servida com a higiene e conforto trazidos pelos descartáveis. Usar descartáveis em situações de extrema necessidade ou importância (como em atendimento à saúde) é uma coisa. Abusar é outra.

Provavelmente você já deve ter ouvido uma proposta parecida com essa: vamos fazer um churrasco só com descartáveis para ninguém ter de lavar louça? Isso é o comportamento de um consumidor mimado pela indústria e pelo comércio e que se apoia no fato de que “todo mundo faz isso”. O problema é que essa pessoa está certa: todo mundo faz isso mesmo.

Mas isso tem um preço. O preço é a dificuldade de se manejar tanto resíduo e todas as consequências que isso traz, como bueiros entupidos contribuindo para enchentes, lixo boiando em rios, resíduos sendo inadvertidamente comidos por animais, entre outras. Sem contar os gastos cada vez maiores com resíduos sólidos por parte do poder público.

Você sabia que a cidade de Sorocaba gasta cerca de R$ 100 mil por dia só para pegar nosso lixo nas portas de nossas casas e enterrá-lo? O que o Poder Público Municipal poderia fazer com R$ 100 mil a mais por dia? Usar na saúde, educação, transporte... mas não, precisa gastar todo esse dinheiro para pegar nossas sobras e fazer o que o gato faz: cavar um buraco e jogar a sujeira dentro.

Lógico que não é só de descartáveis plásticos que é feito o lixo dos sorocabanos ou de qualquer lugar. Mas é fato que eles representam uma parcela bastante significativa, algo em torno de 10-20%. Ufa... são “só” R$ 1020 mil por dia.

Dizer que os plásticos descartáveis são recicláveis é a mais pura verdade, mas não resolve o problema. Afinal, ao menos no Brasil, não há um sistema de reciclagem eficiente a ponto de absorver tanto lixo. Deve-se deixar claro que nesse “sistema de reciclagem” estão sendo consideradas a separação de resíduos na fonte e a coleta seletiva. Ou seja, inclui “todo mundo”.

Voltando às legislações que tentam frear os descartáveis: a Europa fazer uma lei nesse sentido é ótimo, mas é meio que esperado, dada a vanguarda que o continente sempre assumiu na área ambiental, puxando discussões importantes como aquecimento global e até a preservação da Amazônia.

Já a China fazer uma lei dessas é uma surpresa. Ou não: em 2018 o país parou de importar resíduos para reciclagem, o que gerou uma enorme dor de cabeça em países desenvolvidos que costumam despejar seu lixo em outros países.

A China está longe de ser uma potência social e sanitária (o coronavírus que o diga), mas todo seu poderio econômico parece estar fazendo com que o país enxergue, aos poucos, que precisa estar atento a problemas novos, inclusive ambientais.

Nem que isso signifique fazer com que indústria, comércio e população de um modo geral sejam obrigados a, contrariados, mudar comportamento.

Sandro Donnini Mancini ([email protected]) é professor da Unesp-Sorocaba.