Centralidades urbanas: o espaço à mobilidade

Por

Urbanismo e sanitarismo

Marcelo Augusto Paiva Pereira

A publicação da matéria “Destino da área da Gerdau continua indefinido”, publicada na edição de domingo, 7, deste jornal, enseja alguns comentários que abaixo seguem.

Conforme o teor da matéria, existiu um projeto-de-lei que pretendia implantar nesse local um complexo multimodal de passageiros, composto de rodoviária, terminal de integração de ônibus e BRT e estação central de VLT. A finalidade seria solucionar os gravames da mobilidade urbana. Referido complexo, porém, não as soluciona se os trajetos entre a origem e o destino não forem diminuídos.

Um projeto nesse sentido é o de criar centralidades urbanas, nas quais edifícios de habitações populares e áreas comerciais são agregadas a esses complexos multimodais, cujos moradores possam nelas trabalhar sem precisar de transporte individual ou público.

Outro projeto, também integrado ao complexo multimodal, é o de edifícios-garagem para as pessoas guardarem seus veículos enquanto trabalham. Poderão ir à pé ou de transporte público, conforme a distância a ser percorrida.

Áreas públicas de lazer, implantadas junto ao complexo intermodal, contribuem para a preservação do meio ambiente natural e artificial (a cidade), na medida da extensão ocupada e na razão de sua finalidade. Podem ser projetadas áreas verdes nas coberturas dos edifícios, ao lado ou, numa versão mais arrojada, dentro deles, num concurso espacial em que interagem os ambientes externos e internos.

O projeto de complexo intermodal também deve se estender além dos limites territoriais e integrar creches, postos de saúde e outras áreas urbanas, ainda que mais distantes (bairros periféricos, por exemplo). A integração intermodal deve ser ampla, em diversas ramificações (ou tentáculos), para dar aos moradores maior mobilidade.

O transporte público também deverá ser ampliado, tanto na quantidade e qualidade dos veículos quanto nos horários disponíveis. Se o projeto de complexo intermodal tem o escopo de melhorar a mobilidade urbana, as modalidades de transporte que o integram também deverão realiza-la na razão de serem assim destinadas e na medida das necessidades da população.

A título de exemplo, a ideia de integração intermodal foi acolhida pelo Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo, de 2014, que acolheu eixos de desenvolvimento, pelos quais incentivos fiscais e urbanísticos são oferecidos para gerar empregos e renda nos eixos viários onde haja muitas moradias e poucas ofertas de emprego e serviços.

Em tais eixos os moradores têm a oportunidade de trabalhar em locais próximos, cuja distância origem-destino se reduz, o que facilita a mobilidade entre os locais de habitação e trabalho. Tornar-se-ão, com o tempo, em centralidades urbanas integradas umas às outras pelas diversas modalidades de transporte.

Um projeto de complexo intermodal somente será eficaz na finalidade de melhorar a mobilidade se for pensado para servir de centralidade urbana, em que ocorra a integração das modalidades de transporte com os espaços para o lazer, habitação, comércio, as distâncias e outros trechos urbanos. Enfim, é este o espaço à mobilidade. Nada a mais.

Marcelo Augusto Paiva Pereira é arquiteto e urbanista.