Cara ou coroa: a sorte foi lançada...

Por

Marcelo Augusto Paiva Pereira

Muitas são as notícias sobre o coronavírus Covid-19 e seus efeitos. O amálgama noticioso embaraça a razão, põe em dúvida o conhecimento e, ainda, faz crer que as administrações públicas do nosso e dos outros países agem sem a certeza do que fazem nem do que conhecem.

Uma notória pulverização de informações, dados clínicos, estatísticos, entrevistas com populares, médicos, cientistas, políticos e analistas políticos concorrem para um ambiente social caótico, desorientado e inseguro, mas ansioso por soluções mais objetivas, dirigidas à respostas saneadoras.

O período de quarentena que se arrasta desde o fim de março, sem que muitas das pessoas possam exercer suas atividades fora das moradias, é privilégio de quem tem robusta reserva de capital. Uma parcela pequena em face da população do nosso país. À maioria, todavia, a situação é desesperadora.

A maior parte depende do trabalho diário na rua, em estabelecimentos industriais, comerciais ou de prestação de serviços. Na atual situação muitas pessoas estão sem comer enquanto outras, em situação mais grave, também estão sem poder pagar o aluguel e, ainda outras, sem pagar as contas de água, luz e gás.

O enxugamento da produção industrial, da atividade comercial e da prestação de serviços pelo país tem sido fonte de previsões desanimadoras em relação à retomada do crescimento econômico e dos índices de emprego. Nuvens negras se aproximam e apontam para dias nebulosos, em relação aos quais nem todos que antes estavam empregados retornarão ao “status quo ante”...

Ao lado desse prognóstico econômico, as notícias sobre a evolução da pandemia pela Covid-19 mostram diversidade de entendimentos sobre as cautelas e os tratamentos em cumprimento e os que devem ser cumpridos. Surgem posições divergentes, que indicam a continuidade das quarentenas e outras, que propõem o relaxamento gradual delas. Todas tem suas razões.

Esse espectro turbulento de notícias sobre o futuro da economia e da saúde da população tem causas e efeitos que também atingem vários países. Parece uma roleta, em que várias são as apostas e poucos são os ganhadores. Ou uma sinistra “roda da fortuna”...

Diante de situação tão grave à sobrevivência, própria e alheia, muitas pessoas em vários países preferem enfrentar o dilema:

a) se, por um lado, recolher-se às moradias reduz as chances de contágio e amplia as de adoecer pela fome e desnutrição até chegar a morte;

b) por outro lado, sair para trabalhar aumenta as chances de contágio, mas permite recuperar a economia doméstica e melhor nutrir-se para enfrentar a Covid-19.

É árdua a escolha de cada pessoa em enfrentar “de cara” ou, então, ficar em quarentena contra a “coroa” (coronavírus), que paira no ar... Qual será a melhor escolha: cara ou coroa? A moeda (sorte) foi lançada...

Marcelo Augusto Paiva Pereira é arquiteto e urbanista.