‘Buscando’: mistério na tela do computador

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Com o uso da tecnologia da informação, a vida privada de Margot (Michelle La) é devassada pelo pai. Crédito da foto: Divulgação

Com o uso da tecnologia da informação, a vida privada de Margot (Michelle La) é devassada pelo pai. Crédito da foto: Divulgação

Nildo Benedetti - nildo.maximo@hotmail.com

“Buscando”, de 2018, primeiro longa metragem do diretor estadunidense Aneesh Chaganty, se desenrola basicamente nas telas de computadores. Assistimos a pesquisas no Google, vídeos do YouTube, conversas no Facebook, chamadas por Skype e assim por diante. Vários programas são abertos e fechados, são realizadas entradas em contas de mídia social, assistimos a vídeos caseiros. E quando a narrativa exige, são utilizadas câmeras de segurança, transmissões de notícias na TV etc.

Ao contrário de outros filmes que se utilizaram de estrutura mais ou menos parecida, “Buscando” é um filme de mistério com fortes componentes emocionais.

David, sua esposa Pam e a filha Margot compõem uma família aparentemente feliz, com os problemas comuns a qualquer família. Quando o filme começa, uma série de fotos e vídeos exibidos no computador, fora de ordem cronológica, mostrará ao espectador o desenvolvimento da família ao longo dos anos: o casamento de David e Pam, o nascimento, a infância e a adolescência de Margot, suas aulas de piano, a detecção de um linfoma em Pam, doença que a levará à morte. Tudo isto é contado num curto espaço de tempo, com clareza, criatividade e sensibilidade.

Privado da esposa, David empenha-se fundo na tarefa de cuidar da filha adolescente. Mas, a partir do momento em que Margot lhe diz, pelo Skype, que vai participar de um grupo de estudos na casa de uma colega, ele perde contato com a jovem. Despreocupado de início, passa a se inquietar. Vai procurando pessoas com quem Margot poderia estar. Como ninguém sabe do paradeiro da filha, é tomado pelo desespero, recorre à polícia. Uma detetive é encarregada do caso.

David auxilia a detetive nas investigações. Com o acesso ao notebook da filha, procura informações com algumas de suas amigas e amigos. Quando examina o computador obsoleto da esposa morta, encontrará dados sobre as outras crianças com as quais Margot tinha tido alguma conexão.

Estamos familiarizados às formas de relacionamento digital como a que se estabelece entre David e Margot. Com suas vidas ocupadas no trabalho, nos estudos escolares, pouco tempo sobra para o relacionamento presencial. Ainda assim, estão em contato constante por meio da tecnologia, que dá ao pai a certeza de acompanhar os passos da filha e conhecê-la em profundidade. Mas, suas pesquisas sobre Margot vão gradualmente fazendo-o conhecer aspectos da vida particular e do caráter da filha que ele desconhecia.

O filme mostra a assustadora condição contemporânea, em que os recursos tecnológicos disponíveis possibilitam que nossa intimidade, nosso caráter, nossas preferências e sentimentos possam ser detectados, trabalhados e utilizados para nos impingir ideias, produtos, serviços e políticos que nos serão prejudiciais.

O filme não censura e nem a celebra a tecnologia da informação. Apenas reconhece e descreve sua importância na nossa vida diária. É por meio da tecnologia que o pai se introduz na vida privada de Margot para tentar descobrir seu paradeiro -- o que é um benefício.

Serviço

Cine Reflexão

“Buscando”, de Aneesh Chaganty

Hoje, às 19h

Sala Fundec (rua Brigadeiro Tobias, 73)

Entrada gratuita