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Acolher o estrangeiro

04 de Agosto de 2019 às 00:01

Dom Julio Endi Akamine

Há alguns dias, fotos que mostram o drama de imigrantes na fronteira dos Estados Unidos correram o mundo e chamaram a atenção para o sofrimento dos refugiados.

Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, o deslocamento global provocado por guerras, conflitos e perseguições atingiu 59,5 milhões de pessoas no final de 2014. Isso significa que a cada dia 42,5 mil pessoas são obrigadas a abandonar suas casas em razão da perseguição relacionada a questões de raça, religião nacionalidade, pertencimento a um determinado grupo social, conflitos armados e à grave e generalizada violação de direitos humanos.

Atualmente, o maior número de refugiados vem da Síria. Até agora são 5,5 milhões de sírios que foram forçados a fugir. Os afegãos são o segundo maior grupo de refugiados. Além desses dois países, grande número de refugiados provém do Sudão do Sul, do Burundi, do Iraque, da Nigéria e da Eritreia. São países dos quais pouco conhecemos e que pouco aparecem nos noticiários.

Quais são os países que mais receberam refugiados? A resposta a essa pergunta surpreende, pois revela o pouco conhecimento que temos dessa chaga social e da pouca informação que recebemos. Turquia, Paquistão, Líbano, Irã, Etiópia e Jordânia são os países que mais receberam refugiados. A Turquia possui 75,5 milhões de habitantes e recebeu até agora 2,9 milhões de refugiados. O Paquistão tem uma população de 182,5 milhões de habitantes e recebeu 1,4 milhão de refugiados. O Irã tem uma população de 87 milhões de habitantes e recebeu 979 mil refugiados. É surpreendente a situação do Líbano quem tem uma população de 6 milhões de habitantes e recebeu 1 milhão de refugiados. Na Alemanha, a população de refugiados mais que duplicou em 2016 e chegou a 669.500 pessoas.

E no Brasil? Também segundo o Acnur, o número total cumulativo de refugiados reconhecidos atingiu 11.231 pessoas. No total, o Brasil recebeu mais de 80 mil solicitações de refúgio em 2018. Houve um aumento de 240% em relação a 2017, sendo mais de 61 mil pedidos foram feitos por venezuelanos.

O mundo vive a pior crise de deslocamento de pessoas desde a 2ª Guerra Mundial. A impressão é de que o mundo inteiro esteja em guerra.

Ante este quadro dramático nossa primeira reação são lágrimas e dor.

Quem de nós chorou pelas vítimas do tráfico de pessoas? Quem chorou pela morte destes irmãos e irmãs? Quem pelas mães jovens que traziam os seus filhos? Por estes homens cujo único desejo era conseguir qualquer coisa para sustentar as próprias famílias? Somos uma sociedade que esqueceu a experiência de chorar, de “padecer com”: a globalização da indiferença tirou-nos a capacidade de chorar!

Senhor, pedimos perdão pela indiferença por tantos irmãos e irmãs; pedimos vosso perdão, Pai, por quem se acomodou e se fechou no seu próprio bem-estar que leva à anestesia do coração; pedimos vosso perdão por aqueles que, com as suas decisões, criaram, no mundo, situações que conduzem a estes dramas. Perdão, Senhor! (Papa Francisco, Lampedusa 8/7/2013).

Além das lágrimas e da dor solidária é possível fazer algo concreto. Há um programa coordenado pela Diocese de Roraima que visa o acolhimento de refugiados venezuelanos nas diversas cidades do Brasil. As pessoas podem se candidatar a receber refugiados no site www.caminhosdesolidariedade.org.br

A acolhida é um valor que está na raiz da fé cristã, que enriquece a nossa consciência. Um coração grande, não fechado, é mais rico e mais feliz.

Acolher o estrangeiro nos faz ver no outro não um inimigo, mas um irmão a ser amado. A Igreja é mãe e exprime sua ternura e afeto na acolhida de quem é obrigado a fugir de seu próprio país e vive desenraizado e sozinho.

Dom Julio Endi Akamine é arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Sorocaba.