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A política do petróleo

12 de Março de 2020 às 00:01

A política do petróleo Crédito da foto: Giuseppe Cacace / AFP

Carlos Brickmann

A Arábia Saudita pediu à Rússia que reduzisse a produção de petróleo, já que a China diminuiu as compras e o preço iria cair. A Rússia recusou. E os sauditas reagiram duro: reduziram o preço do petróleo em 30% e anunciaram o aumento da produção em quase 3 milhões de barris por dia. Mas, além de mostrar a força econômica, os sauditas têm também um objetivo político.

A derrubada do preço do petróleo atinge pesadamente o Irã, inimigo dos sauditas. Sufocado por imensas despesas militares, as finanças sofrendo com o embargo americano, o Irã depende de vendas de petróleo no varejo. Não tem como suportar a queda dos preços. A Venezuela também terá problemas sérios (e, embora não seja exatamente inimiga dos sauditas, é amiga do Irã). A Rússia, que apoia o Irã, protege o regime sírio (mal visto pela Arábia Saudita) e bombardeia grupos armados ligados de alguma forma aos sauditas, não vai falir por causa da queda do petróleo, mas terá grandes prejuízos. Talvez aprenda que, em petróleo, os sauditas são os mestres.

Os americanos também têm perdas -- a produção de shale oil, o petróleo de xisto, fica inviável. Mas as usinas não são tão caras, podem ficar paradas até que o negócio volte a valer a pena. E os Estados Unidos, enquanto isso, podem importar petróleo barato e até crescer na crise (a menos que os vírus o impeçam). Os Estados Unidos são o maior aliado mundial dos sauditas. Já o Brasil... de acordo com nosso Governo, não existe crise, apenas fantasia.

Marolinha e fantasia

A última grande crise econômica mundial foi chamada pelo então presidente Lula de “marolinha”. Até hoje pagamos os custos da marolinha. A atual crise é chamada pelo presidente Bolsonaro de “fantasia”. A fantasia fez com que a Bolsa recuasse aos índices anteriores à sua posse. O dólar bate recordes. O valor das empresas cotadas em Bolsa se reduziu em quase meio trilhão de reais (embora não haja perda real para quem tiver condições de manter as ações, sem vendê-las às pressas, esperando que voltem ao normal).

Bolsonaro também diz que a questão do coronavírus não é tudo que a grande mídia propaga. Se tiver razão, a Universidade Harvard é dirigida por malucos que suspenderam as aulas por causa do noticiário da imprensa sobre o coronavírus. O caríssimo futebol europeu é dirigido por idiotas que, por causa da imprensa, perdem dinheiro jogando em estádios sem torcida. Os israelenses são dirigidos por irresponsáveis que, acreditando na imprensa, impuseram isolamento de 14 dias a visitantes de qualquer parte do mundo. Bolsonaro tem certeza do que diz, tanto que convoca manifestação em todo o país em que milhares de pessoas poderão se expor ao coronavírus.

Muy amigo

Trump convidou Bolsonaro para jantar em seu resort de Mar-a-Lago, na Florida, uma beleza cinco-estrelas -- e, mais importante, numa propriedade de Trump, algo pessoal, informal, não burocrático. Trump chamou Bolsonaro de “bom amigo”, “que está fazendo um trabalho fantástico”, garantiu que os Estados Unidos sempre “ajudarão o Brasil”, que as relações entre os dois países estão em excelente momento. Mas não quis se comprometer a evitar o aumento de tarifas sobre importações de aço e alumínio brasileiros. “Não faço nenhuma promessa”. Tudo bem: promessas são sempre boas, agradáveis, simpáticas, desde que não se acredite nelas.

Racismo, não

Houve quem acreditasse que usando perfis falsos na Internet poderia fazer o que quisesse. Duas pessoas que acreditaram nisso, e usaram perfis falsos para agredir na Internet a jornalista Maria Júlia (Maju) Coutinho, da Rede Globo, acabam de ser condenados. Ambos fizeram ataques racistas contra Maju. Foram identificados, processados e sentenciados. Érico Monteiro dos Santos foi condenado a seis anos de prisão e Rogério Wagner Castor Sales a cinco, ambas as penas em regime semiaberto. O juiz Eduardo Pereira Santos Jr., da 5ª Vara Criminal, de São Paulo, condenou-os também por corrupção de menores, por terem levado três adolescentes a cometer o mesmo crime.

O juiz, citado pelo ótimo portal Consultor Jurídico, concluiu que ambos cometeram crimes de racismo e injúria racial. “O racismo, no caso, deu-se em sua forma qualificada, eis que as frases de ódio racial e de cor foram publicadas na página virtual do Jornal Nacional da Rede Globo, ou seja, em ambiente de amplo acesso ao público. Está caracterizado também o crime de injúria racial”. Duas outras pessoas foram absolvidas por falta de provas. Os condenados podem recorrer da sentença em liberdade.

Carlos Brickmann é jornalista. E-mail: [email protected] - Twitter: @CarlosBrickmann