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A origem da Vila Angélica

10 de Setembro de 2019 às 00:01

A origem da Vila Angélica Crédito da foto: Fábio Rogério / Arquivo JCS (17/12/2015)

Vanderlei Testa

Conheci um pouco da origem da Vila Angélica através da história de vida do Ronaldo Antunes Ferreira e do seu primo João Líbero Rosa. João Libero é filho do João Francisco Rosa que foi um dos empreendedores no início do século 20 em Sorocaba, proporcionado as habitações dessa Vila com doações de terras. Atualmente a Vila Angélica é um dos bairros mais populosos da zona norte. A riqueza de detalhes começa com o nome anterior de Vila Santa Angélica. O nome Angélica foi colocado em homenagem à avó Angela. Angela de Jesus, conhecida na época como “dona Angélica”. Ela tinha partido para a sua terra natal Portugal, quando os netos João Libero e Ronaldo ainda nem tinham nascidos em Sorocaba. Família de portugueses vocacionados ao comércio varejista, os irmãos João Francisco Rosa e Manuel Francisco Rosa decidiram investir na cidade comprando terras nos altos da rua Hermelino Matarazzo. Hoje o início da avenida Ipanema. “Naquela época era plantação de eucaliptos da fazenda dos Matarazzo e, só mato naquelas bandas, que ia até onde hoje é a Cruz de Ferro” no final da av. Angélica, disse Ronaldo. Os irmãos Rosa Investiram também no centro comercial. Abriram um armazém na rua doutor Braguinha e, posteriormente, na rua Monsenhor João Soares construíram o Hotel Sorocaba. Isso lá nos anos de 1930. Entusiasmado pelo Brasil e, em especial, por Sorocaba, João Francisco Rosa incentivou a irmã Gertrudes de Jesus Rosa e o marido Joaquim José Batista, em Portugal, a arrumarem as malas e embarcar para a nossa terra. Junto com o casal, vieram também seus filhos: Joaquim José Batista Ferreira (o Quinzé), José Rosa Batista Ferreira, João Francisco Rosa Ferreira, Cândido e Cândida Rosa Ferreira.

A descendência de Gertrudes e Joaquim desde os seus antepassados em Portugal, trazem como herança a generosidade e o acolhimento às pessoas. Foi o que aconteceu em Sorocaba. Além de gerarem empregos e desenvolvimento com os seus armazéns de beneficiamento de milho, arroz e, posteriormente outros negócios, o patriarca João Francisco Rosa, possibilitou o progresso à Vila Angélica. Católicos na tradição portuguesa, sua família doou o terreno onde está a Igreja de Nossa Senhora Aparecida na av. Ipanema. Como cidadão, fez também a doação de área para a construção do Grupo Escolar Joaquim Isidoro Marins e do Parque Infantil da Vila Angélica: atual Escola Municipal João Francisco Rosa. Se não bastassem essas benemerências, mais uma vez a família Rosa partilhou suas áreas para a construção da Igreja Assembleia de Deus, Ambulatório Médico Municipal e o Posto Policial do bairro. Parecem incríveis essas doações desinteressadas de um casal de imigrantes que veio de Portugal para trabalhar e teve sucesso doando parte de seus bens em benefício da comunidade sorocabana. Pena que um dia alguém mudou o nome oficial de Vila Santa Angélica, para Vila Angélica. A história da Santa Angela (Angélica), como chamava a mãe do João Francisco Rosa, sempre foi, como a santa, uma mulher generosa e uma anja na vida dos pobres. O nome Vila Santa Angélica significava muito à família.

Os anos se passaram e mais uma loja da família Rosa apareceria no conhecido “Armazém dos Rosas”, do bairro Além-Ponte”, na rua Coronel Nogueira Padilha. Frequentei muito essa loja ao lado do antigo Unibanco. Estabelecidos no comércio alimentício, os irmãos Rosa foram criando raízes na cidade que os acolheu de braços abertos. Conheço o Ronaldo Antunes Ferreira há pelo menos uns 50 anos. Ele é filho do José Rosa Batista Ferreira e Joaquina Antunes Ferreira.

Estudamos desde 1969 na mesma faculdade e classe. Essa convivência acabou por transformar numa amizade que perdura até os dias atuais. Frequentava com a família dos Rosa a fazenda na Vila Angélica nos anos 70, onde atualmente está o Terminal de Integração de ônibus e centenas de casas nas inúmeras vilas da zona norte. Também ia estudar com o Ronaldo e colegas do grupo da faculdade, no armazém e depósito de arroz “Soltinho” que a família Rosa mantinha de suas plantações de Goiás. Era um enorme depósito na rua 7 de Setembro, 33, perto do Mercado Municipal. Praticamente todas gerações da vó Angela mantiveram laços profissionais com o comércio de Sorocaba e outras profissões liberais. O Beto está no ramo de materiais de construções na av. Armando Pannunzio. É filho do Cândido Rosa e da Cecilia Leite Ferreira. Assim a família Rosa, com comerciantes, médicos, advogados, em dezenas de descendentes, inclusive com atividades na Europa, mantém a tradição portuguesa de criar laços de amizade, como o João Líbero faz na sua atual moradia em Peruíbe, sem nunca se desligar da sua Sorocaba que se desenvolveu nestes 365 anos também graças ao pai visionário João Francisco Rosa, fundador da Vila Angélica.

Vanderlei Testa, jornalista e publicitário escreve quinzenalmente no Jornal Cruzeiro do Sul e aos sábados, no www.facebook.com/artigosdovanderleitesta