Buscar no Cruzeiro

Buscar

A luz da educação

23 de Outubro de 2019 às 00:01

Serena Canjani, com Elisa Canjani e Marcos Gravina

O Brasil está colocado entre as 10 maiores economias do mundo, entretanto, em questão de educação e desigualdade social, temos muito ainda o que caminhar. Segundo o relatório “Education at a Glance 2019” divulgado em setembro pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o país investe menos do que a metade por estudante quando comparado aos países desenvolvidos.

Os dados do relatório consideram o ano de 2016 para a relação PIB versus investimento educacional.

Seria injusto desprezar as conquistas dos últimos anos: o desenvolvimento de estratégias para democratização do ensino, as políticas de inclusão social ou de ação afirmativa no ensino superior.

O próprio Plano Nacional de Educação (PNE), que estabelece as diretrizes para o decênio 2014-2024, referência para as ações e compromissos colaborativos entre instâncias governamentais e as diversas instituições voltadas para o tema, é resultado de um grande esforço multidisciplinar.

Não se pode perder de vista, no entanto, que além de um maior investimento de recursos diretos no sistema educacional, como mostram os dados da OCDE, também a área de pesquisa reclama investimentos.

Embora a conclusão do ensino médio seja um passo importante para a inserção do jovem no mercado de trabalho, como o relatório afirma, a educação tem uma função que ultrapassa a questão.

Deve voltar seus esforços também para a formação jovens participativos e conscientes de seu papel enquanto cidadãos globais; de seus direitos e deveres na promoção dos direitos humanos e da natureza; do respeito à diversidade e estilos de vida sustentáveis, engajados na Cultura de Paz e a não violência, para a convivência democrática.

No que tange à graduação, o Brasil está abaixo da média dos países analisados no relatório OCDE. Apenas 21% da população entre 25 a 34 anos de idade possui ensino superior completo, contra 44% da média dos países que fazem parte da organização, como Canadá e Estados Unidos.

Nesse quadro, o atual congelamento de investimentos na educação traz um aumento da preocupação com cenário acadêmico do país, pois compromete desde os programas de financiamento como o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil), até bolsas para desenvolvimento de pesquisas de alta tecnologia.

Vale lembrar que a década de 80, mesmo sendo conhecida como a “década perdida”, assistiu ao nascimento do Ministério da Ciência e Tecnologia (1985) e, em 1988, do Laboratório Nacional de Luz Síncroton (LNLS), que atualmente, se vê às voltas com a questão do corte nos recursos.

Até setembro de 2019, o LNLS tinha recebido apenas 30% dos recursos previstos para o laboratório Sirius, o 1º acelerador de partículas de 4ª geração em desenvolvimento no Hemisfério Sul, responsabilidade do Centro Nacional de Pesquisas em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas (SP), financiado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).

O laboratório estava previsto para ser inaugurado já em 2020 com 13 estações em funcionamento, das 40 previstas. Todavia, o atraso e congelamento nos recursos comprometerá a competitividade do laboratório no cenário internacional, assim como a formação dos profissionais e futuros cientistas que lá trabalharão.

A luz do fim do túnel, porém, parece começar a se manifestar com a aprovação, pelo Supremo Tribunal Federal, da destinação de parte dos recursos recuperados pela Operação Lava Jato para a educação, ciência e tecnologia. Resta saber agora se essa luz realmente iluminará o espectro da educação no país.

Serena Canjani, graduanda em Engenharia Ambiental pelo Instituto de Ciência e Tecnologia de Sorocaba (ICTS/Unesp) e aluna especial do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da Unesp-Sorocaba. E-mail para contato: [email protected] .

Elisa Canjani, arquiteta e urbanista pela FAU-USP, atualmente faz graduação em Educomunicação pela ECA-USP e mestrado na mesma instituição, na área de Ciências da Comunicação.

Marcos Gravina também é graduando em Engenharia Ambiental pelo ICTS/Unesp.