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A história da Maria Zilda Pupin

31 de Março de 2020 às 00:01

A história da Maria Zilda Pupin Crédito da foto: Vanderlei Testa / Arte VT

A história de Maria Zilda Camargo Barros Pupin daria um livro de tema generosidade e espiritualidade. Há muitos anos a vejo nas celebrações que acontecem no Mosteiro de São Bento, em Sorocaba. Em todas as missas das sete horas da manhã, alguns minutos são dedicados a ela para relatar a vida do santo do dia e fazer as intenções daquela celebração. Uma missão que se completa também na distribuição dos folhetos, convite a quem irá fazer as leituras do dia e o que mais dom Rocco solicitar, como pessoa querida e líder na comunidade. Com o Covid-19, a igreja fechou e todos estão em quarentena. Maria Zilda nasceu em Salto Grande, São Paulo e é filha de Maria de Lourdes e Waldomiro Euzébio Camargo. A mãe, dentista e o pai farmacêutico. Foi em Salto Grande na sua infância até os oito anos de idade que a menina “Zildinha” pôde acompanhar sua família naquela pequena cidade, vizinha de Ourinhos, atualmente com 8.800 habitantes. Nas conversas que tivemos relembrando o seu passado, surgiram os fatos da generosidade de seus pais e a lembrança da sua mãe, em fornecer medicamentos aos pobres. Essa atitude de bondade, também está perpetuada na sua vida através das várias Conferências Vicentinas que o seu pai Waldomiro instituiu e participou em Sorocaba. Uma vocação de servir aos mais necessitados. Hoje com 87 anos, Maria Zilda traz tristes recordações que abalaram suas emoções de mãe e esposa. É viúva de Angelo Pupin, falecido em 2002, em trágico assalto ocorrido com ele em um estacionamento da rua Nogueira Martins. Uma fatalidade humana difícil de ser aceita na perda de um ente querido como o Angelo. Ele só fez o bem na sociedade e vivia para ajudar as pessoas. Quando conversei com a Maria Zilda sobre isso, as lágrimas ainda correm sobre os seus olhos na dor da saudade eterna do seu amado marido. Angelo, anjo que está na vida eterna com seu filho Miguel. Ele foi destacado funcionário do antigo Banco do Estado de São Paulo.

O casal Maria Zilda e Angelo teve quatro filhos. Aloisio Antonio, procurador de Justiça, Miguel Angelo, José Augusto Pupin, delegado de Policia Civil, Liliane Lourdes Pupin, professora. A vida da menina Zilda em Salto Grande junto aos seus pais teve como orientação familiar a busca da educação. Estudar era a meta dos filhos. Vencendo as dificuldades da época, cada um dos filhos teve a sua missão. Maria Zilda estudou no Colégio interno Santa Marcelina de Botucatu, onde fez a sua primeira Eucaristia. Na juventude, sua formação se deu no Colégio Nossa Senhora do Patrocínio, de Itu. Já em Sorocaba, buscando seguir a sua vocação de ensinar, frequentou o Curso Normal no “Colégio da Santa Escolástica”. Lá recebeu os conhecimentos e ,aptidão para ser professora. Depois de formada seguiu sua jornada cultural na Faculdade de Filosofia de Sorocaba, da Fundação Dom Aguirre, especializando-se em Pedagogia. Os desafios encontrados pela Maria Zilda na faculdade foram muitos, porque naquele tempo havia muitos poucos alunos em condições de frequentar o curso superior. A sua matrícula no curso superior de Pedagogia completou a sala de aula com apenas 12 alunos. É curioso relembrar, segundo ela, que os alunos tinham que aguardar professores vindos de São Paulo, capital, pois não havia em Sorocaba docente habilitado com graduação ou mestrado para ministrar as aulas.

Mas o esforço valeu a pena para Maria Zilda. Começou como professora substituta efetiva da Escola Maternal de Santa Rosália até chegar a ser a Diretora da escola. Naqueles tempos a empresa Companhia Nacional de Estamparia comandada pelo empresário Severino Pereira da Silva assumia a Escola Maternal em todas as suas despesas de administração. Com a extinção da tradicional escola onde centenas de crianças filhos de operários estudaram, a Maria Zilda foi ser professora efetiva de 1º Grau na Escola Estadual Comendador Pereira Inácio, em Votorantim. De lá, assumiu posteriormente como professora efetiva no 2º Grau da Escola Municipal Dr. Getúlio Vargas, Curso de Magistério, colaborando para a formação de centenas de professoras que até hoje destacam o seu comprometimento com o ensino. Sua vida de mestra foi até a sua aposentadoria.

Com certeza os pais de Maria Zilda criaram e formaram em cada filho e filha uma luz brilhante para a educação do Brasil. E ela com o Angelo, mantiveram essa herança de família levando aos seus filhos o melhor que puderam dar em cultura. O filho Aloisio é casado com Cintia Mitico Belgamo Pupin, Promotora de Justiça, em São Paulo. O José Augusto é casado com Carla Spinardi Pupin, Cirurgiã Dentista e a Liliane casada com Luiz Angelo Verrone Qulici, Procurador do Município de Sorocaba.

E antes do fechamento das igrejas, pelo coronavírus, lá na saída do Mosteiro de São Bento, a Maria Zilda com os braços apoiados na amizade com suas amigas, como a professora Maria Emília Genaro, caminhava descendo a rua de São Bento, numa conversa animada de professoras. Elas que deixaram na calçada da educação a marca de seus passos de integridade e ensino a milhares de alunos, agora desfrutam na fé a sabedoria divina em suas vidas. Fé que a Maria Zilda testemunha, como o fez a sua mãe Maria de Lourdes que deixou este mundo aos 94 anos de idade, alegre e feliz, tendo a seu lado o padre João Santucci que lhe deu a unção dos enfermos, e a ouvindo dizer que Jesus estava chegando para leva-la ao paraíso. E como este artigo está circulando as vésperas do dia do santo João Batista de La Salle, fundador da “Congregação dos Irmãos das Escolas Cristãs”, dedico a todas as professoras e professores. Este santo tinha entendido que a educação dos jovens era uma verdadeira benção para todos. Certamente foi uma benção na vida da professora Maria Zilda e sua família.

Vanderlei Testa é jornalista e publicitário escreve quinzenalmente no jornal Cruzeiro do Sul às terças-feiras e aos sábados no www.facebook.com/artigosdovanderleitesta e www.blogvanderleitesta.com