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‘A esposa’ no Cine Reflexão da Fundec

15 de Março de 2019 às 00:01

‘A esposa’ no Cine Reflexão da Fundec Joan (Gleen Close): esposa e mãe perfeita que reconsidera sua vida familiar. Crédito da foto: Divulgação

“A esposa”, dirigido em 2017 pelo sueco Björn Runge, começa em 1992 nos Estados Unidos. Joseph Castleman, um famoso escritor, recebe a notícia de que foi agraciado com o prêmio Nobel de Literatura, ao qual estava concorrendo.

Comecemos por situar o contexto social em que a relação de Joe e Joan tem início, ele como professor de literatura casado e com uma filha, ela como estudante talentosa. Estamos em 1958, nos Estados Unidos, portanto uma década antes das enormes transformações que abalariam a sociedade ocidental em vários aspectos, principalmente em termos de paternidade e sexualidade. Mas a relação em 1992 de Joe e Joan e seu casal de filhos, depois de mais de três décadas, parece anacrônica, porque reproduz a dos filmes estadunidenses da década de 50. Nestes filmes, todos os cuidados requeridos por uma família são tratados pela mulher com empenho e competência. É Joan quem intermedia com inteligência e bom-senso os atritos de pai e filho, que cuida da saúde precária de Joe como apenas uma enfermeira zelosa faria. Controla sua alimentação, seu sono, a hora de ele tomar as pílulas, guarda seus óculos. Releva as aventuras extraconjugais de um marido compulsivamente infiel. Ele é um patriarca de vida mundana, ela uma dona de casa submissa, porém sábia e compreensiva, cuja função primordial é a de estruturar uma boa família americana. Os atritos, que normalmente ocorrem em todos os relacionamentos de casal, são tratados com a simplicidade ou mesmo com a superficialidade dos filmes de Hollywood da época (compare-se com a profundidade com que os filmes do sueco Ingmar Bergman tratam do mesmo assunto, como em “Sonhos de mulheres”, “Morangos silvestres”, “O rosto”).

Na vida social, Joan é uma coadjuvante que se comporta com a discrição que cabe à esposa de um grande homem. Em seu discurso na recepção aos amigos para festejar o prêmio Nobel, ele afirma que, sem sua mulher, ele não é nada e que sua maior obra foi a de tê-la convencido a se casar com ele. É um discurso padronizado de qualquer indivíduo que quer mostrar sucesso na vida privada e modéstia na vida pública.

O casal viaja para a Suécia para Joe receber o prêmio. Já em Estocolmo, uma mulher acompanhará Joan para compras e tratamentos de beleza -- como supostamente gostam as esposas estúpidas de maridos brilhantes. Enquanto isso, ele estará ocupado com os preparativos da premiação. Uma fotógrafa o seguirá e ele flerta abertamente com ela.

O tema da viagem, como causador de transformações radicais da vida de um ou mais indivíduos, tem sido amplamente tratado no cinema. A viagem física pode operar como uma viagem ao autoconhecimento do personagem. Neste “A esposa”, a viagem de Joan à Suécia muda sua vida em apenas dois dias e, por consequência, a de toda a família. Na cerimônia de premiação do Nobel a Joe e no jantar que se segue, ela começa a rememorar os anos de casamento. Essas lembranças fazem vir à tona aspectos do relacionamento do casal ocultos por muito tempo.

Serviço

Cine Reflexão

“A esposa”, de Björn Runge

Hoje, às 19h

Sala Fundec (rua Brigadeiro Tobias, 73)

Entrada gratuita