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A escola não será mais a mesma pós-pandemia

23 de Maio de 2020 às 00:01

Maria Fernanda Tabacow

A pandemia do conoravírus (Covid-19) impôs ao mundo uma nova forma de agir e pensar. Desta vez, não foi a própria sociedade a protagonista dessa mudança, dessa quebra de paradigma que mudou completamente a nossa forma de enxergar o planeta e as relações humanas. Um inimigo invisível, um agente externo é que nos obrigou a enfrentar esse desafio. Resta a nós, agora, saber como reagir diante disso tudo, extraindo das circunstâncias as melhores lições possíveis, rumo à busca incessante por construir um lugar melhor para viver.

Dentro desse contexto, a educação, alicerce da construção de todo conhecimento, também foi amplamente impactada. Com as escolas temporariamente fechadas, o ensino passou a acontecer à distância, antecipando tendências que já vinham sendo discutidas pelos especialistas.

Desde a última experiência que tive na Austrália, eu já vinha com uma inquietação muito grande a respeito do modelo de vida que levamos no Brasil. Essa rotina frenética, em que, se eventualmente chegamos mais cedo do trabalho, temos a sensação de que não cumprimos tudo o que tinha que ser feito. Lá fora, isso não é assim. Às 17h, o comércio fecha, as crianças saem das escolas às 15h e as famílias podem aproveitar o restante do dia nos espaços públicos. As crianças têm mais tempo para serem crianças e os adultos exercem sua cidadania, sem medo das ruas.

Cito os pensamentos do físico e filósofo da ciência estadunidense Thomas Kuhn e do sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman para comentar como as transformações trazidas pela pandemia e o consequente isolamento social estão atingindo decisivamente a sociedade. Com base na definição de paradigma de Thomas Kuhn, nos está sendo imposta uma grande mudança em nosso estilo de vida. Pela primeira vez, não somos nós, a sociedade, os protagonistas dessa mudança. Ela nos foi estabelecida por um agente externo, um vírus. Da mesma forma, Zygmunt Bauman nos fala que a “modernidade é liquida”, ou seja, nada é permanente no mundo atual e a única certeza que temos é a falta de certeza. De fato, desde que começou a quarentena, as coisas mudam muito rapidamente, a cada instante. Todo mundo está tendo que se reinventar e a vantagem é daqueles que já estavam pensando nisso antes.

Nesse sentido, as escolas mantidas pelo grupo Ágathos Educacional, há certo tempo, já estavam experimentando o uso da tecnologia no processo de ensino-aprendizagem. O Objetivo Sorocaba, ao longo dos últimos três anos, vinha discutindo e avaliando inovações nessa área. Em suas unidades na cidade - Portal, Centro e Norte -, a escola tem trabalhado nas chamadas metodologias ágeis, que preveem a formação de um time multidisciplinar para a discussão e resolução de problemas complexos em tempo hábil, além de no lançamento de produtos-teste, tal como feito pelas Startups, o que possibilita aprimorar esses modelos a partir do feedback contínuo de uso do próprio usuário. Com isso, assim que foi determinada a quarentena pelos órgãos competentes, o Objetivo Sorocaba pode, rapidamente, criar múltiplas estratégias para que os alunos pudessem continuar aprendendo o conteúdo do currículo escolar já proposto para 2020, utilizando todas as possibilidades oferecidas pela internet, como meio para a transmissão de informação e conhecimento.

Na mesma linha, quanto teve início o período de isolamento social, o Anglo Sorocaba também já estava familiarizado com a educação no ambiente digital. Dessa forma, rapidamente lançou mão de plataformas em uso e outras novas, para promover o ensino à distância a todos os níveis.

Ainda, em ambas as escolas do grupo Ágathos, os aplicativos de comunicação e relacionamento entre pais, responsáveis, professores e alunos, como ClipEscola e ClassApp, continuaram sendo amplamente utilizados, ganhando ainda mais relevância. De forma antagônica, a tecnologia que, até então, entendíamos com algo que nos afastava uns dos outros, agora, nos aproxima e nos livra do completo isolamento social. Imagine o que seria de nós se esta pandemia tivesse acontecido tempos atrás, antes da revolução tecnológica?

A escola não será mais a mesma depois da pandemia. A relação com a família, entre os alunos, com os professores.... Nada será como antes. A questão da valorização do papel do professor, tão discutida ultimamente, ficou ainda mais evidente agora, quando percebemos, na prática, a importância do trabalho do educador neste novo contexto. Como falou minha filha pequena dia desses: o mundo está com “baixa humanidade”. E acho que, mesmo querendo dizer imunidade, ela acabou acertando, pois, certamente, sairemos dessa com um nível mais alto de humanidade também.

Maria Fernanda Tabacow Maria Fernanda Tabacow é CEO do grupo Ágathos Educacional, graduada em Direito pela Universidade Mackenzie; em Pedagogia pela Universidade Paulista e mestre em Educação pela PUC-Campinas