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A boca e suas enfermidades

03 de Outubro de 2018 às 09:16

A boca pode abrigar doenças próprias deste local ou ser uma manifestação de moléstias da pele e de outros órgãos. As enfermidades vão desde traumas mecânicos e térmicos até alterações dos lábios, glândulas salivares, infecções ou lesões malignas. Na boca traumatizada pode ocorrer a estomatite da dentadura, a hiperplasia papilar do palato, impressões da prótese dentária,

mordedura de repetição e palato dos fumantes, cujos aspectos variam de manchas avermelhadas ou esbranquiçadas até lesões com formato de tumor.

O palato dos fumantes ocorre principalmente com o uso de cachimbo, em virtude da agressão térmica e química. Tem início com vermelhidão no céu da boca e evolução para nódulos esbranquiçados. Felizmente não se trata de lesão pré-cancerosa, regredindo totalmente com a abstenção do fumo. A lesão das glândulas salivares se manifesta através da mucocele, cisto mucoso e a rânula, em virtude do acúmulo de muco no assoalho da boca por obstrução das glândulas.

A estomatite aftosa ou afta mostra uma ulceração dolorosa, de caráter recorrente, não traumática, que predomina nos indivíduos da classe média e alta de qualquer idade, mas pode ter padrão familiar. A afta começa com um vago desconforto por até 48 horas, seguida de lesão avermelhada pequena, localizada e muito dolorosa, que se transforma em úlcera arredondada (2 a 5 mm), profunda e com base amarela. Persiste por 5 a 7 dias, com desaparecimento completo em 14 dias. A causa da afta não está totalmente esclarecida, mas parece tratar-se de um processo auto-imune, sendo o tratamento controverso e o resultado bastante individual.

Assim, no surto usam-se anti-sépticos, protetores da mucosa (leite de magnésia, bicarbonatos, etc), antibióticos em bochechos, anestésicos tópicos e corticóides. Mas nos casos graves o esquema é mais agressivo. Para evitar recidivas tem sido sugerida a suspensão de certos alimentos (frutas cítricas, chocolate e ovo), ao lado de reguladores da imunidade.

Outra enfermidade de natureza imunológica é a doença de Behçet, que se manifesta com aftas, lesão ocular (uveite), úlceras genitais e lesões na pele, além de febre, fraqueza, artrite, etc. Também provoca grandes lesões na boca (manchas, placas, etc), assim como o líquen plano oral, que é considerado uma doença pré-cancerosa. Todavia, a infecção mais importante é a candidíase (Candida albicans) ou sapinho, que se apresenta sob múltiplos aspectos (placas ou grânulos esbranquiçados) e queimação leve ou intensa nos indivíduos imunodeprimidos (aids, diabetes, uso de drogas e próteses dentárias).

Entre os processos malignos da boca alinham-se o câncer oral (de 3% a 4% de todos os tumores), leucoplasia, eritroplasia e carcinoma verrucoso. Este câncer é responsável por 90% das neoplasias malignas da boca, podendo ocorrer na língua (50%), lábio inferior, etc.

A lesão pré-cancerosa mais comum é a leucoplasia, que se manifesta por placa esbranquiçada ou acinzentada, persistente e aderida ao revestimento da boca. Aparece em qualquer lugar, não dá sintomas e predomina nos homens entre 40 e 60 anos de idade. Por isso deve ser analisada com urgência. Por outro lado, a prevenção é feita com remoção dos fatores irritativos (fumo, álcool e outros agentes) e o tratamento com curetagem, eletrocoagulação, crioterapia ou retirada cirúrgica. Além da profilaxia da cárie, uma das mais importantes razões para o exame periódico da boca é a detecção precoce das lesões pré-cancerosas, assim como do câncer em fase inicial. Por isso, mastigar é fundamental para uma boa digestão, porém, tudo depende da normalidade da boca ou da saúde bucal.

Artigo extraído do livro Doenças - Conhecer para prevenir (Ottoni Editora), de autoria do médico Mário Cândido de Oliveira Gomes, falecido aos 77 anos, no dia 6 de junho de 2013.