Dos bandeirantes à metrópole
Esta metrópole com quase 800 mil habitantes tem muita história. Sua história se desenrola em ciclos: dos bandeirantes, dos tropeiros, dos ferroviários e tecelões, das indústrias e, hoje, uma magnífica cidade onde não falta emprego, moradia, escolas, comércio. Enfim, tudo começou com os bandeirantes, que eram predadores de índios.
O principal e mais importante bandeirante foi o fundador Balthazar Fernandes. Ele entrou nos sertões com apenas 9 anos, acompanhando o pai, Manuel Fernandes Ramos, e na velhice, resolveu fundar uma vila em suas terras. Balthazar construiu uma casa e uma igreja e mudou-se com sua mulher Isabel de Proença, 12 filhos, genros, nora e cerca de 400 índios para servirem nas lavouras de algodão e trigo.
Segundo Cônego Luiz Castanho de Almeida, em sua obra “Bandeirantes do Ocidente”, em 1661 Sorocaba já era “um oásis de vida civilizada na solidão”. A cidade contava com 30 casais, uma casa da Câmara, a igreja de Nossa Senhora da Ponte, e dois padres beneditinos construíram seu convento.
Logo outros sertanistas, que formavam suas bandeiras, chegaram à vila e adentravam os sertões à caça de indígenas para serviços de suas lavouras ou para venda. As pessoas capturadas, chamadas de “peças”, tinham muito valor.
Bandeirantes com origens em Sorocaba
Paschoal Moreira Cabral Leme: Nascido em Sorocaba por volta de 1660, era filho de Paschoal Moreira Cabral (o velho) e Mariana Leme. Em 1718 partiu de Sorocaba em uma bandeira para capturar índios e chegou ao local onde o rio Coxipó deságua no Cuiabá. Após batalhar e perder para os índios coxiponés, sua expedição encontrou ouro no caminho de volta. Eles abandonaram a captura de índios para se dedicarem à mineração. Paschoal fundou Cuiabá em 1719.
Fernão Dias Falcão: Era de Parnaíba, mas veio para Sorocaba e se casou com Lucrécia Pedroso de Barros. Criou a Vila de Pitangui onde foi seu 1º juiz ordinário. Em 1719, juntamente com o filho Antônio de Almeida Falcão, seguiu com sua bandeira para ajudar Paschoal Moreira Cabral Leme. Fernão Dias Falcão foi capitão-mor regente de Cuiabá, que na época ainda era chamada Coxipó.
Capitão Braz Moreira: Sorocabano de nascimento, irmão de Paschoal, esteve na bandeira de Salvador Moreira em 1690 e no arraial de Vacaria. Em 1692 aparece em Sorocaba batizando 15 escravos indígenas.
Miguel Sutil de Oliveira: Nasceu em Sorocaba por volta de 1674. Era tio de Salvador de Oliveira Leme, conhecido como Sarutaiá, que construiu a igreja e mosteiro de Santa Clara, demolidos na década de 1960. Miguel partiu para Cuiabá em 1721. Ele descobriu ouro, chegando a extrair meia arroba em um único dia. Faleceu em Sorocaba em 1755.
Francisco Sutil de Oliveira: irmão de Miguel Sutil, minerou em Minas Gerais em 1713 e 1715. Faleceu em 1722 em Sorocaba.
Irmãos Antunes Maciel
Antônio Antunes Maciel: Casado com Maria Paes Domingues, fez parte da entrada de Paschoal em 1718, junto com os irmãos João e Gabriel, na fundação de Cuiabá. Mais tarde, em 1727, com os irmãos Felipe e Gabriel fizeram uma expedição contra os índios parecis. Faleceu em Sorocaba em 1745.
João Antunes Maciel: Veio para São Paulo por volta de 1682. Morreu no Mato Grosso, e seus ossos foram levados para serem enterrados na capela-mor da matriz de Sorocaba.
Miguel Antunes Maciel: Casou-se em Sorocaba em 1701. Em 1727, formou uma bandeira para o Cuiabá com Antônio Lobo. Foi morto no rio Paraguai pelos índios paiaguás.
Gabriel Antunes Maciel: Casou-se em Sorocaba em 1697. A pedido do governador Sarzedas, formou uma expedição com 60 homens (muitos de Sorocaba) contra os índios paiaguás, antes de 1734. Eles foram “trucidados” pelos indígenas.
Outros bandeirantes sorocabanos
A lista de bandeirantes de Sorocaba inclui, entre outros: André de Zúñiga; Gabriel Antunes Maciel (o moço); João Antunes Maciel (o moço); Miguel Antunes Maciel; Jerônimo Ferraz de Araújo; Domingos Barbosa Calheiros; Diogo Domingos de Faria; e Arthur e Fernão Pais de Barros.
A história de Sorocaba está profundamente ligada aos ciclos de exploração e desenvolvimento do interior do Brasil, que evoluíram do bandeirantismo para outras atividades, como a mineração e a agricultura, moldando a cidade até se tornar a metrópole que é hoje.
Maria Aparecida Almeida Dias de Souza é vice-presidente da Academia Sorocabana de Letras