Copom, mais falcão do que pombo
Desta vez, a decisão sobre os juros nos Estados Unidos foi mais esperada do que a daqui. O Copom já havia cantado em agosto que, em setembro, manteria os mesmos 15% ao ano. Mas avisou, nesta quarta-feira, que as incertezas aumentaram, que é preciso cautela e que “não hesitará em retomar o ciclo de ajustes caso julgue apropriado”. Ou seja, desta vez, o Copom foi mais falcão do que pombo.
Do Fomc, que é o Copom do banco central dos Estados Unidos (o Fed), já se sabia que a primeira queda dos juros deste ano, de 0,25 ponto porcentual ao ano, para 4,00% a 4,25% ao ano, poderia sair agora, como saiu, por ampla maioria de 11 votos a 1. A predisposição para baixar os juros, anunciada há semanas pelo presidente do Fed, Jerome Powell, vinha sendo duramente questionada pelo próprio presidente Donald Trump, que pressionou por corte mais alentado e ameaçou até mesmo cortar as asas da autonomia do Fed para definir sua política.
Esta decisão do Fed foi muito importante para o mercado financeiro do Brasil porque terá influência sobre a cotação do dólar em reais.
Nos Estados Unidos, o nível dos juros ficou cravado como uma espécie de coluna do meio entre a perspectiva de recessão (e queda do emprego), que pede juros mais baixos, e a perspectiva de inflação mais alta por conta do tarifaço do presidente Trump, que impõe juros mais altos ou, pelo menos, juros estáveis em nível alto.
A principal consequência para a economia brasileira dessa queda dos juros nos Estados Unidos e da manutenção dos juros nos 15% ao ano no Brasil é a tendência ao aumento da entrada de dólares por aqui, especialmente pelas operações denominadas carry trade, que levam os especuladores a levantar empréstimos em dólares no exterior a juros muito mais baixos para reaplicá-los em reais no mercado financeiro do Brasil e ganhar com a diferença.
Outra consequência, será o barateamento em reais do produto importado pelo Brasil. Ou seja, o deslizamento do câmbio no mercado interno ajuda a conter a inflação e poderia levar o Banco Central do Brasil a desistir de nova alta dos juros.
Pelo comunicado divulgado logo após a reunião do Copom, o Banco Central deixou claro que, por enquanto, não pensa em reduzir os juros. As principais razões para essa decisão são a piora da economia global e a forte deterioração das contas públicas.
O comunicado mais duro do Banco Central pode segurar em alguma coisa a alta da Bolsa que vinha apostando em queda dos juros no início de 2026.
Celso Ming é comentarista de economia