O cessar-fogo e o Brasil

Por Cruzeiro do Sul

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É alívio geral com o cessar-fogo entre Irã e Israel, embora ainda não se saiba até quando irá durar a trégua. Mas como fica o Brasil?

Como é parte da aldeia global, o Brasil enfrentará consequências positivas e negativas do terremoto que teve seu epicentro no Oriente Médio. Mas, em termos relativos, tende a se beneficiar, porque está na periferia e, também, porque pode tirar proveito de consequências imediatas dessa guerra.

Foram três os objetivos presumidos e declarados das hostilidades agora suspensas: impedir a obtenção da bomba atômica pelo Irã; acabar com a terceirização dos ataques pelo Hamas em Gaza, pelo Hezbollah a partir do Líbano e da Síria e pelos rebeldes Houthi no Iêmen; e derrubar o regime dos aiatolás no Irã. Dois desses objetivos foram ao menos parcialmente alcançados, mas mostram os limites da saída militar. O protagonismo principal terá agora de ser diplomático.

Embora o presidente Trump tenha declarado que o bombardeio pelos super artefatos bunker busters nas centrais nucleares do Irã tenha produzido grandes estragos, não há certeza de que os estoques de urânio já parcialmente enriquecido tenham sido destruídos, nem de que a capacidade do Irã de voltar ao projeto da bomba tenha sido eliminada. Mas o perigo imediato foi adiado por tempo indeterminado.

O segundo objetivo foi impedir a continuação das guerras delegadas. Como lembrou o comentarista do New York Times, Thomas Friedman, os recursos para essas megaoperações do Irã provêm de suas exportações de petróleo para a China. Mesmo se as cotações do petróleo vierem a cair mais do que caíram, parece improvável que a fonte desses recursos seja estancada. Mas o enfraquecimento militar e geopolítico do Irã parece ter desencorajado essas operações.

O objetivo da deposição do regime dos aiatolás foi negado pelo presidente Trump, talvez por temer a repetição, no Irã, do caos que aconteceu com a derrubada do regime de Saddam Hussein no Iraque. Se fosse para substituir o regime, seria preciso fazer mais.

De todo modo, as incertezas foram reduzidas, inclusive as que tinham sido esparramadas também por aqui. Isso sugere melhores condições de retomada da atividade da economia global. Na condição de grande fornecedor de commodities, o Brasil tende a se beneficiar. As exportações brasileiras de soja, milho, açúcar, café e petróleo continuarão com papel relevante.

Outras eventuais vantagens ou desvantagens para o Brasil ainda não estão claras. E falta saber se o governo Lula será capaz de equilibrar o barco para enfrentar o possível retorno da tempestade.

Celso Ming é comentarista de economia