Jesus e o desafio da comunicação positiva

Por Cruzeiro do Sul

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Nos últimos 60 anos, a sociedade humana evoluiu mais do que nos 200 anos anteriores. O crescimento do número de universidades, bem como do seu acesso à população, dinamizou o potencial criativo em várias partes do mundo, dando origem a uma infinidade de inovações, que têm facilitado tremendamente a vida sobre a terra. E uma das principais áreas de desenvolvimento nesse período, certamente, foi na área das comunicações.

Isto não significa, contudo, que estejamos nos comunicando melhor. Em alguns aspectos, podemos afirmar, inclusive, que a comunicação interpessoal, até mesmo, piorou. E isto tem acontecido porque a “comunicação presencialmente pessoal”, passou a ser gradativamente substituída pela “comunicação virtualmente pessoal” dando origem a um paradigma de comunicação profundamente raso, insensível e descartável.

Uma pesquisa realizada entre divorciados nos EUA, e divulgada pelo pastor batista Gary Chapman, citada no livro “Comunicação e Intimidade: o segredo para fortalecer seu casamento”, afirma que 86% dos entrevistados apontam as deficiências na comunicação como o principal motivo do fracasso de seu casamento. Se essa pesquisa está correta, a dificuldade de se comunicar bem é mais do que um simples problema pontual. É, na verdade, uma epidemia.

O mesmo também pode ser verificado no ambiente profissional. Uma pesquisa realizada entre executivos norte americanos e divulgada pelo “The Economist”, intitulada “Communication berries in the modern work place”, afirma que 44% dos entrevistados atribuem à má comunicação, falhas e atrasos na entrega de projetos, 31% ao desânimo para trabalhar e 52% ao desenvolvimento de estresse.

Com o intuito de superarmos nossos problemas de comunicação, precisamos olhar para Jesus. Sabe por quê? Porque Ele nos é apresentado pela Bíblia como a “Palavra de Deus”, como o “Verbo de Deus”. Ou seja, numa interpretação bastante simples e rudimentar, Ele é a expressão máxima da Comunicação do Pai, apresentado como o modelo supremo a ser seguido por todos aqueles que desejam desenvolver habilidades fundamentais para se relacionarem bem.

Suas virtudes podem ser verificadas desde a criação do universo. Quando Deus disse: “Haja Luz”, Jesus brilhou pela primeira vez, sob a face das águas, e tudo o que não existia veio à existência: o dia, os continentes, os mares, os astros, os animais e os seres humanos sobre a terrar. Resumindo, o objetivo da comunicação de Deus, através de Jesus, é a edificação, a organização, a harmonia. A comunicação de Jesus é a comunicação essencialmente positiva.

Se queremos nos comunicar como Jesus, a “Palavra de Deus” não devemos irritar os outros, não devemos provocar quem está quieto, não devemos destilar ódio, não devemos diminuir o outro, nem tão pouco colocar uns contra os outros. Pelo contrário, precisamos edificar o que é positivo, enaltecer o que é belo e orientar o que precisa de orientação. Dessa forma, a comunicação de Jesus era usada, no princípio, para expandir o Reino de Deus sobre a terra.

A comunicação positiva de Jesus tinha sua fonte de inspiração na oração. Sempre que orava, fazia uso de uma linguagem essencialmente afetiva, que consolidava em seu interior o fato de que o Pai o amava e d’Ele cuidava, como verdadeiro Filho Amado. A comunicação afetiva com o Pai determinava um padrão de comunicação generosa que se destinava a todos, inclusive àqueles que o odiaram e trabalharam por sua execução.

Isto não significa que Jesus nunca foi duro com ninguém. Mas sempre que o fez, foi absolutamente coerente com o senso de justiça e amor do Pai. Em Jesus, esses dois elementos se fundem perfeitamente. Infelizmente, quando alguns de nós abrimos a nossa boca, estamos muito mais comprometidos com o nosso senso de justiça e desejo de sermos amados — e isto faz da nossa comunicação uma arma potencialmente letal.

A quem você imita? Quem tem influenciado os seus diálogos? Quem tem forjado funcionalmente o seu jeito de conversar? E eu me refiro aqui à comunicação do dia a dia, com quem vive ao seu lado dentro de casa, com seus amigos de clube, com seus parentes num almoço de sábado à tarde, com um vendedor que procura lhe oferecer algo que você não quer, ou ainda com seus companheiros de trabalho numa tensa reunião de negócios durante a semana.

Se queremos melhorar a nossa comunicação, precisamos nos aproximar de Jesus, a fim de aprendermos com Ele, as características de uma comunicação essencialmente positiva. Uma comunicação que não apenas usa as palavras adequadas para o estabelecimento de fins questionáveis, mas que do começo ao fim do processo, visa a edificação de relacionamentos que se alimentam e se edificam mutuamente.

Renato de Oliveira Camargo Junior, é teólogo formado pelo Seminário Presbiteriano do Sul, pós-graduado em Liderança pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, doutor em Ministério pelo Missional Trainning Center, diretor do Centro de Treinamento para Plantadores de Igrejas e pastor Plantador da Comunidade Presbiteriana Campolim, em Sorocaba