‘Criptoameaças’
Até que ponto as criptomoedas beneficiam o sistema financeiro internacional? Desde que surgiu o bitcoin, essa pergunta se repete. As autoridades monetárias dos grandes países veem nelas ameaça potencial. Tentam reagir com a criação de moedas digitais de banco central, as CBDCs, que possam reduzir o uso das criptomoedas nos mercados, mas, até agora, não foram muito longe.
Sexta-feira (25), a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, na reunião de primavera do FMI, denunciou as criptomoedas como “ameaça à estabilidade quando adquirirem maior integração ao sistema financeiro internacional”.
A ameaça de que fala Lagarde é a da redução da capacidade dos bancos centrais de exercerem sua política monetária (política de juros), essencial para o controle da inflação.
Como são ativos emitidos e controlados pelo setor privado, as criptomoedas escapam ao domínio dos bancos centrais. Quando ganharem mais densidade nos mercados; e quando conseguirem exercer mais funções clássicas da moeda, como a de serem mais usadas como meios de pagamento, os bancos centrais terão dificuldades de calibrar o volume de moeda na economia para combater a inflação. Nessas condições, sabe-se lá para onde irão os juros e a capacidade de cada país de emitir títulos.
Este não é o único perigo. Como não são controladas pelas autoridades de Estado, elas vêm sendo cada vez mais usadas para práticas de lavagem de dinheiro, financiamento do narcotráfico e para sonegação fiscal. Ou seja, tornaram-se coração e sangue do crime organizado e, portanto, dos poderes paralelos que a partir daí se formam.
As tentativas de alguns bancos centrais de criar ativos digitais oficiais, como o Drex do Banco Central do Brasil, ainda não engrenaram. Uma das razões é que prometem coisas contraditórias. Prometem anonimato nas operações, como o praticado pelas criptomoedas comuns — que não vinculam diretamente um nome ou uma carteira nas transações registradas na blockchain —, mas, ao mesmo tempo, pretendem que combatam os crimes proporcionados por meio delas. Como isso seria possível sem quebra do sigilo é um mistério. E se houver quebra do sigilo, as criptomoedas oficiais não terão a mesma aceitação nem combaterão crimes.
Isto posto, o que fazer? Proibir a mineração e o uso delas, que hoje somam mais de 16 mil e alcançam um valor de mercado de US$ 3,1 trilhões? Parece impossível, especialmente quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, se encarrega de lançar a sua, a $Trump, e a de sua mulher, a $MELANIA, vinculadas à Trump Organization. Lagarde sugere regulação que seja adotada globalmente.
Celso Ming é comentarista de economia.