Trump e as criptomoedas

Por Cruzeiro do Sul

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Na última quinta-feira (23), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou os primeiros decretos que envolvem o setor das criptomoedas. O sinal é de criação de um regime regulatório pró-inovação e menos intervencionista.

As decisões proíbem o Fed (o banco central dos Estados Unidos) de desenvolver uma moeda digital de banco central (CBDC, na sigla em inglês). Trump quer, também, estudos de um grupo de trabalho para a criação de um estoque estratégico nacional de moedas digitais.

Dias antes da posse, Trump lançou duas criptomoedas próprias: a $TRUMP e a $MELANIA. Em recente relatório, analistas da gestora Bernstein viram no lançamento das moedas do casal Trump o início de uma era caótica para a indústria. O lançamento foi visto com descrédito porque esses ativos, baseados em memes e personalidades da internet, oferecem pouco valor intrínseco e estão altamente sujeitos a volatilidades, mesmo que integrem uma indústria, cujo valor de mercado alcance a magnitude de US$ 3,6 trilhões, como mostram dados do agregador CoinMarketCap.

Além disso, uma política sem amarras para as criptomoedas, como pretende Trump, pode aumentar o número de transações ilegais, tais como evasão fiscal, extorsão e lavagem de dinheiro. Em 2024, o valor das operações com criptomoedas movimentadas pelo crime foi de US$ 51 bilhões, como consta em relatório da Chainalysis. Esse volume corresponde a apenas 0,14% do total das transações globais com criptoativos, mas é movimento que exige mais controle e mais transparência.

Também sobram dúvidas sobre a reserva de ativos digitais que Trump pretende criar. Começa por saber sobre qual ativo adotar. Se for o bitcoin, parece inevitável mais impacto sobre seus preços, especialmente se outros países seguirem nessa linha. Pergunta-se, também, se essa concorrência na composição de reservas não imporia certo desgaste ao dólar. Ou, então, se não geraria desprestígio ao Fed e a outros bancos centrais, com possível perda de receitas com senhoriagem, aquela que um banco central obtém quando emite uma moeda.

Embora Trump tenha proibido a criação de uma CBDC, com o argumento de que contrariaria a privacidade e a liberdade dos cidadãos, a indústria tem se preparado para a criação de infraestruturas de sistemas de blockchain (sistema em que rodam as moedas digitais) a serem reguladas pelos bancos centrais. Na avaliação do especialista Gustavo Cunha, CEO da FinTrender, seria esse o grande legado para acelerar o acesso a serviços financeiros inteligentes e para a transformação de qualquer bem em ativo digital (token). (com Pablo Santana)

Celso Ming é comentarista de economia.