A cola na escola
Aproveitando o tema da semana passada, quando abordamos as dificuldades dos canhotos em ter uma letra minimamente legível, neste artigo manteremos o foco no ambiente escolar. Porém, desta vez, trataremos de uma questão delicada: a famosa cola, uma velha conhecida dos alunos. Aliás, há quem diga que a prática de colar, durante as provas, é tão antiga quanto à própria escola. Tanto que, antigamente, o famoso bordão: “Quem não cola, não sai da escola”, era levado muito a sério por alguns dos estudantes. Mas, tal ousadia não estava restrita apenas aos anos iniciais, passava pelo antigo colegial (hoje, ensino médio) e chegava ao nível universitário.
Na verdade, o problema começava na antevéspera das temidas provas — principalmente das matérias de exatas — pois muitos alunos passavam horas maquinando um modo perfeito de ludibriar os professores no momento das avaliações. Inclusive, o grau de dedicação a essa artimanha era tanto, que surgiram várias manobras que, no meio estudantil, ganharam status de “manual” dos espertinhos. Afinal, havia vários modelos de cola, das mais simples as mais sofisticadas.
Porém, que os alunos de hoje não se empolguem com essas artimanhas, porque, neste mundo, não há crime perfeito. Ou seja, todo artifício é desmontado sempre! Assim, na maioria das vezes, aquele que se achava o espertalhão da turma era duramente flagrado pelo professor. Resultado: além de levar uma advertência, com a presença dos pais, o zero era inevitável, mesmo diante de muitas lágrimas pedagógicas. Vale lembrar que tentar obter nota por meios ilícitos sempre foi um subterfúgio condenado pelos professores, pois esbarra numa questão ética. Como diziam os antigos: “é preciso corrigir as crianças para não punir os adultos”.
Porém, a título de curiosidade, destacaremos algumas estratégias que, no passado, fizeram parte da vida escolar. A “pescoçada” era a mais manjada da turma. E como funcionava? Simples: num momento de distração do mestre, o aluno esticava o pescoço sobre a prova do vizinho. Quando a avaliação tinha gabarito, muita gente saia com torcicolo da sala. Mas, havia também a tal da “sanfoninha”, que exigia mais elaboração. Nela, o estudante punha o conteúdo da prova, com uma letra bem miudinha, em cada linha de uma folha de caderno, que era dobrada, como se fosse uma sanfona. Na hora da prova, com a cola embaixo da perna, aos poucos, o material era discretamente consultado.
Outro método era a “cola compartilhada”: aquele que dominasse o conteúdo, assim que recebesse a prova, dava uma geral nas perguntas. Pouco tempo depois, pedia para ir ao banheiro, onde deixava algumas dicas, num lugar discreto, para quem viesse depois dele. A “prova trocada” era assim: dois amigos trocam de prova, durante o processo. Cada um respondia aquilo que lembrava. Tudo tinha que ser muito rápido.
Isso parece loucura! Mas, na hora arrancar um “dez” na matéria que o aluno estivesse dependurado, até o material escolar era um forte aliado nessa tarefa, pois colocavam cola em tudo: no estojo, na borracha, na manga da blusa e nas paredes da sala. Até na própria carteira, ou no encosto da carteira da frente, colocavam as famosas fórmulas de matemática, física e química. Detalhe: no meu tempo de estudante, era proibido usar calculadora. As fórmulas também não eram colocadas na lousa, como hoje. Só havia dois caminhos: decorar ou colar.
Mas, atualmente, como essa problemática questão é tratada pelos educadores? Com o celular, a cola se tornou virtual. Logo, se não houver atenção redobrada dos professores, os alunos podem acessar a sites, como o ChatGPT, que dão respostas prontas. Até redações. Por isso, em dias de provas, esses aparelhos devem ficar desligados nas mochilas. Além disso, muitas escolas contam com câmeras até nas salas de aula. Isso, de certo modo, inibe tal prática. Mas, não põe fim. Pois, sempre alguém vai testar os limites. Bom domingo!
João Alvarenga é professor de redação