João Alvarenga
Sobre o mundo dos aromas
O envolvente perfume da “dama da noite” motivou este artigo, pois numa noite dessas, uma brisa suave trouxe-me de longe o cheiro inconfundível da Cestrum nocturnum. A título de curiosidade, esse é nome científico, em latim, desse popular arbusto de porte médio, que é encontrado com grande facilidade em vários bairros de nossa cidade. Pode ser visto até nas ruas centrais, pois quase no final da rua da Penha há um frondoso pé dessa espécie que encanta quem passa por ali. Afinal, sua presença é notada à distância, pois seu cheiro adocicado e marcante preenche o ar de forma impactante. Às vezes, um pequeno arbusto é capaz de exalar um perfume que toma conta do quarteirão inteiro. Mas, não se engane, porque, como o próprio nome diz, tal graça ornamental só tem esse poder de sedução à noite. Por isso, também é conhecida como “rainha da noite”.
Assim, tomado por esse momento mágico de encantamento e poesia, convido você, leitor amigo, a fazer uma imersão ao mundo dos diversos aromas que fazem parte do nosso cotidiano e que, muitas vezes, devido à correria da vida, não são notados com tanta ênfase. No entanto, quando um aroma especial se impõe com toda força, tudo muda de figura. Naturalmente, somos obrigados a parar, por alguns instantes, para contemplar a encantadora beleza que nos brinda com suave ternura aromática.
No quesito plantas ornamentais, nossa cidade é privilegiada, pois temos até um clube de cultivadores de orquídeas, uma planta que, segundo especialistas, exige muitos cuidados especiais para que possa exibir seu espetáculo multicolorido que faz a festa dos nossos olhos. Isso sem falar nas rosas, marca registrada dos nossos jardins, que até já inspiraram poesias, músicas e infindáveis paisagens em telas coloridas que captam, com sensibilidade artística, um instante único de magia inigualável.
Na literatura, o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade poetizou a magia das rosas, sendo o livro “A rosa povo” um marco em sua vasta obra. De Cecília Meireles, a crítica destaca o poema infantil “Flor amarela”, que sedimenta o seu estilo de falar com as crianças com leveza e alegria. Dizem que a obra do poeta espanhol Federico Garcia Lorca “cheira à flor de laranjeira’.
Agora, você já pensou no quanto essas plantas aromáticas nos fazem bem? Quanto elas nos inspiram? Dizem, inclusive, que quem as cultiva não têm estresse e encara a vida com mais leveza. Existem até os adeptos da aromaterapia. Há quem “converse” com suas samambaias, avencas, hortênsias, lírios... É muito difícil encontrar alguém, principalmente mulheres, que não tenha plantas em casa, ainda que isso exija cuidado redobrado por causa da ameaça da dengue e suas variantes do mal.
Por isso, uma lei municipal, aprovada em 2013, incentiva os munícipes a plantar a famosa citronela e a pouco conhecida crotalária. A citronela funciona como um repetente natural contra o Aedes aegypti. Assim, além de servir como ornamento, também inibe a presença desse temido mosquito. Inclusive, há no mercado produtos que se servem dessa poderosa essência, como repelentes, velas e incensos. Aliás, muitos sorocabanos já fazem uso dessas alternativas naturais para se proteger. Porém, isso não basta! É sempre bom observar vasos com plantas e caixas de água, além de jogar, semanalmente, cloro nos ralos dos quintas e banheiros. Já a crotalária atrai os predadores naturais dos pernilongos, como as libélulas.
Para concluir, é notório observar que, excetuando os alérgicos, a maioria dos mortais se rende aos encantos das plantas e seus aromas que enchem nossa existência de beleza e suavidade. Afinal, as inúmeras plantas ornamentais carregam seus mistérios, encantos e magias. Não é à toa que as pessoas que perderam o olfato, por conta da Covid-19, diziam-se triste, pois se sentiam tolhidas desse prazer. Bom domingo!
João Alvarenga é professor de redação