Vanderlei Testa
Solidariedade é contagiante após enchentes em Sorocaba
Se existiu um despertar maior em Sorocaba para com a solidariedade humana, depois dos dois anos de pandemia do Covid-19, certamente, isso aconteceu no final do mês de janeiro, com as fortes chuvas que afetaram a cidade. Os alagamentos das vias públicas e praças, com o transbordamento do rio Sorocaba e córregos, que afetaram a cidade toda, em especial, o Grupo de Pesquisa e Assistência ao Câncer Infantil (Gpaci), a Igreja João de Camargo e a Igreja Nossa Senhora do Carmo -- ao lado do Parque das Águas --, mobilizaram a população que se uniu numa corrente do bem. Com a mesma rapidez das chuvas e inundações causadoras de perdas significativas para essas entidades, a reação do povo foi imediata em termos de solidariedade.
Há um espírito nobre nos brasileiros que proporciona essas reações humanitárias que se manifestam em todo o território nacional. Quem não tem recursos financeiros leva a sua mão de obra para varrer, passar o rodo, limpar o que ficou cheio de lama e recolher o que estragou. Quem pode faz Pix, outros oferecem doações de materiais, alimentos, fraldas e medicamentos. Além disso, numa atitude digna, a Polícia Militar enviou 40 recrutas que ajudaram no rescaldo da imensa quantidade de produtos usados pelo hospital que se dedica ao tratamento do câncer infantil.
Também foram montados postos de arrecadação em vários pontos da cidade, numa louvável iniciativa solidária de benemerência. Essa bonita ação contrasta com os atos condenáveis de criminosos que, infelizmente, aproveitam tragédias para agir como fraudadores nas redes sociais. Foi denunciado que gatunos virtuais publicaram mensagens falsas solicitando depósitos para as suas contas bancárias pessoais. Um crime hediondo em todos os sentidos, pois tais pessoas estão imbuídas do mal em suas atitudes.
Os móveis de várias casas, destruídos pela força das águas, ficaram amontoados nas calçadas. Imagem que se transformou em um cenário triste aos olhos dos sorocabanos. A fé, no entanto, surpreendeu aos repórteres que iam entrevistar esses moradores, pois recebiam como resposta: “Se Deus quiser, recomeçaremos a nossa vida”. Essa determinação das famílias desabrigadas é animadora. “A perda do material é passageira e retorna tudo novo”, disse uma moradora das vizinhanças do Parque das Águas, participante do Santuário de Santa Filomena.
Mas, nem só de confiança reage quem perdeu tudo de suas salas, quartos e cozinhas. As redes sociais foram também “inundadas” de manifestações de apelos aos órgãos públicos pela ausência de providências em áreas sabidamente marcadas como vulnerárias às tempestades e chuvas torrenciais. Sandro Castelhano fez um apelo: “Atenção, Saae Vê se este ano cadastra as casas do Jardim Abaeté como áreas atingidas por enchentes”.
O Gpaci, através da sua presidente, Maria Lúcia Neiva de Lima, em suas páginas sociais, tem se manifestado em agradecimentos à ajuda recebida de associações e empresas, como o caso do “Centro Médico São José”, pelos empréstimos de equipamentos. Rosana Lopes Faria citou, no seu comentário da postagem da presidente do Gpaci: “Ainda há esperança para o mundo. Vamos focar no bem e na misericórdia divina que tudo será resolvido”.
“Um sonho seria se as verbas a serem gastas no Carnaval deste ano, com os blocos e escolas de samba, fossem destinadas para ajudar o Gpaci”, disse Maria Ângela Oliveira, presidente da Associação do Amor inclusivo (AAI), entidade que cuida de pessoas com deficiências visuais e auditivas. Para Ângela, cada real é significativo no montante a ser usado na aquisição de medicamentos, equipamentos e produtos necessários ao atendimento às crianças.
Adriano Corrêa, publicitário, tem uma filha adolescente, Aline, atendida pelo hospital do Gpaci, há vários anos. Ela sofre de Lúpus e, graças ao atendimento médico e hospitalar, vinha sendo tratada com a moderna tecnologia para essa enfermidade, até as enchentes destruírem os equipamentos. No dia 23 de janeiro, Adriano entrou em contato com o hospital e recebeu a triste notícia que o preocupou muito: “Cancelaram todo o tratamento, exames e consultas da sua filha”. Entendendo a situação caótica do hospital, Adriano justificou: “Eles perderam o térreo, salas de consultas, sala de quimioterapia, refeitório, cozinha, almoxarifado, farmácia, onde se armazenavam os medicamentos do hospital, portaria e atendimento. Enfim, tudo o que a Aline usava no Gpaci nesses últimos cinco anos. O tratamento foi suspenso, pois estão fazendo inventário de todos os danos e perdas causados pela enchente”. A família de Adriano sentiu uma tristeza profunda ao assistir o vídeo do quarto onde Aline estava internada, totalmente destruído pelas águas.
Quem deseja ajudar, o Pix do Gpaci é o CNPJ 50.819.523/0001-32.
Vanderlei Testa ([email protected]) é jornalista e publicitário; escreve às terças-feiras no jornal Cruzeiro do Sul