Alexandre Garcia
A grandeza do Brasil
Nossa tentativa de liderança mistura o estilo de clientelismo usado dentro do país, com política de boa-vizinhança
Ao abrir a Assembleia Geral da ONU, o presidente Lula falou contra a guerra e criticou os membros permanentes do Conselho de Segurança, que têm poder de veto e fazem guerras.
O Brasil quer ser membro permanente -- já que também foi nação vitoriosa na II Guerra.
O presidente dos Estados Unidos, que falou depois, concordou com Lula, pregando a necessidade de mais vozes no Conselho de Segurança.
Hoje os presidentes Lula e Biden se encontram, em Nova Iorque.
Foi uma presença forte do Brasil, diante de representantes dos 193 países membros das Nações Unidas.
É desejo do Brasil ter um protagonismo mais significativo nas questões mundiais; mas teria o país um poder nacional para sustentar uma posição maior, mais decisiva?
Não parece que estejamos em situação de grandeza política para isso.
O chefe de Estado, que deveria ser um estadista, é mais afeto às questões menores da política, assuntos provincianos, pessoais.
O Brasil se apresenta grande na ONU, mas fica com aspecto de propaganda.
Na prática, conforma-se com o objetivo de ser uma liderança regional.
Não fossem os desastres econômicos dos regimes argentino e venezuelano, certamente teríamos séria concorrência no campeonato regional de poder e influência.
Além disso, misturamos política com comércio exterior.
Ter a China como principal parceiro comercial não exige que elogiemos o regime autoritário comunista chinês.
Nossas relações internacionais misturam diplomacia com ideologia e hoje estamos colados na Venezuela, Argentina, Cuba, Nicarágua, China e Rússia -- só para citar alguns países que, por coincidência, não são exatamente democracias.
Além disso, nossa tentativa de liderança mistura o estilo de clientelismo usado dentro do país com política de boa-vizinhança de oferecer créditos de um banco estatal nacional, como se ele fosse uma agência internacional de desenvolvimento.
É a projeção do fisiologismo interno para atrair países na ilusão de liderança regional.
Para complicar as questões diplomáticas, nosso chefe de Estado faz declarações tomando partido na guerra Rússia-Ucrânia, despreza decisões do Tribunal Penal Internacional, chama os países-membros do Tratado de Roma de bagrinhos, provoca o aliado histórico americano e permite que aportem no Rio navios de guerra do Irã. Agora, na ONU, desagradou de novo os Estados Unidos ao defender Cuba e o Hamas.
A Índia, que tem a maior população do mundo, desde sua independência em 1947 tem mantido neutralidade, com a qual cruzou a guerra fria.
Hoje China-Rússia e Estados Unidos parecem ensaiar uma segunda guerra fria.
O atual governo brasileiro poderia imitar a Índia, mas dá todos os sinais de que já escolheu ficar coadjuvante de um lado.
O poder nacional, além do poder político, se compõe do poder econômico, social e militar.
No econômico, estamos entre as maiores economias do mundo, produtores espetaculares do combustível mais nobre, o alimento que energiza pessoas.
E nosso potencial é maior ainda, em energia limpa, minerais, água potável, terra para produzir alimento, que pode ainda ser multiplicada, a despeito da ideologia anti-agro.
Mas nosso poder militar é fraco, em disparidade com a riqueza que precisa ser defendida.
E nosso poder social é medíocre, com ensino em geral precário e formação política e de cidadania não compatíveis com o primeiro dos fatores de riqueza: a natureza.
E Lula, na ONU, ainda criticou o nacionalismo.
Seu ex-ministro de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, tem criticado a mediocridade.
Com ela, não pode haver grandeza.
Alexandre Garcia é jornalista