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Vanderlei Testa

Férias de Julho e as lições de casa com o desapego

10 de Julho de 2023 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: ARTE: VT)

 

As férias do mês de julho, nas escolas, deverão gerar uma movimentação diferente nas casas, com as crianças agitando os espaços, em especial os seus quartos. Uma proposta que tenho observado, na programação da televisão, em canais do Youtube, é a transformação, nesse período de recesso, de crianças, jovens e adultos acumuladores, em pessoas organizadas, com o desapego do que é desnecessário. Essa parada rápida é uma ótima oportunidade aos pais para motivarem os filhos nessa mudança saudável de comportamento. Além de deixarem os ambientes mais limpos, colaboram para a experiência humana da prática da doação. Quantos brinquedos são guardados, por anos, sem que sejam compartilhados com crianças da periferia ou orfanatos, que nada têm para brincar.

Nos armários, as roupas de inverno, sem uso, poderiam ser doadas para as campanhas de solidariedade. Na sequência da arrumação das coisas que ocupam muito espaço, há, nos quartinhos de despensa ou edículas, como uma reportagem mostrou, uma série de itens armazenados, como aparelhos de ginástica, ferramentas, quadros, garrafas, patins e uma infinidade de lembranças de viagens. São “quilos” de objetos que se avolumam, nas prateleiras, há anos. Tudo isso pode ser desapegado e, inclusive, se transformar em recursos financeiros a entidades, como a Casa André Luiz, que, com um caminhão, retira o material das residências.

Além disso, esses bens também podem ser doados aos bazares das entidades, como a Associação do Amor Inclusivo (AAI), na rua Pedro Alvares Cabral, 564, Vila Progresso, ou à Associação Beneficente Oncológica de Sorocaba (Abos), da rua João Crespo Lopes, 415, Jardim América. Há dezenas de entidades beneficentes, em Sorocaba, que promovem bazares da pechincha e que sempre precisam de doações. O Fundo Social de Solidariedade de Sorocaba tem a relação de todas as associações e seus endereços.

O tema “Desfaça-se tudo o que atravanca a sua vida” é repleto de alternativas positivas. Aprendemos, a cada dia, que os seres humanos racionais precisam se libertar dos itens que escravizam a sua mente e a sua vida. As experiências de vida saudável podem começar com a simplicidade de agir, respeitar a opinião dos outros, dialogar, rir com frequência e chorar, quando for necessário. Cantar, mesmo que seja no banheiro, dormir o suficiente, escrever poesias, cartas ou até um diário com as anotações de cada dia. Os especialistas em vida saudável aconselham que devemos apreciar a natureza, os animais, o céu estrelado. Pedir e dar um abraço pode seu um santo remédio, a ser praticado entre pais e filhos nas férias.

Esta semana, ouvi uma frase que passo aos leitores: “Tudo o que existe é bom”. Ao começar a pensar, nessa reflexão, cito que se você está lendo este artigo, é porque enxerga; então, os seus olhos estão bons, mesmo usando óculos. Gosto de frequentar a Associação do Amor Inclusivo, pois lá acompanho o trabalho de alunos com deficiência visual (cegueira), que aprendem a tecer tapetes com o tato das mãos, costurar com o uso de recursos nas máquinas de costura, tocar instrumentos musicais, entre outras atividades. Suas mãos, neste momento em que lê o jornal, o seguram. Olha aí mais uma maravilha da sua vida. O som que os seus ouvidos escutam, neste momento, não será possível para o artista plástico Moisés Surdo, como ele assina as suas obras. A sua deficiência auditiva o impede de ouvir, tendo, por isso, dificuldade em falar. Mas, o dom que recebeu produzir arte com material reciclado é algo maravilhoso aos seus olhos, que agradece esse dom a todos que o conhecem.

Há um livro com título “Nada me faltará”, que relata a história de um pastor de ovelhas. Havia uma ovelha que sempre se desviava do seu rebanho e fugia para longe. Com a sua paciência de pastoreio, sempre ia buscá-la, para reintegrá-la, novamente, ao grupo. Foi assim, por muito tempo, até que um dia decidiu pegar a ovelha desgarrada e quebrar uma de suas perninhas. Esse ato, aparentemente doloroso à ovelhinha, na verdade, foi uma lição para o indefeso animalzinho.

Desde o momento da quebra da perna, o pastor a colocou em seus ombros e a carregava por todo o lado. Com o passar dos dias, aquela pequena ovelhinha começou a sentir o cheiro da pele do pastor e a conhecê-lo de perto, já que estava sendo carregada. Depois de um tempo, com as perninhas em condições de andar, o pastor a colocou no chão. O resultado é que a ovelha nunca mais saiu de perto do pastor, pois havia tido uma experiência de ser carregada e conhecer, de perto, o seu dono. Assim é a vida, seja nas férias de julho, ou em outro mês do ano, somos, de certa maneira, levados a viver com sabedoria o tempo junto aos filhos e a família. Desapegar, enxergar a beleza da vida e se deixar carregar, resultará em uma palavra: gratidão!

Vanderlei Testa ([email protected]) é jornalista e publicitário; escreve às terças-feiras no jornal Cruzeiro do Sul