João Alvarenga
Dia da Mulher, uma reflexão
Mais do que uma simples lembrança, o "Dia Internacional da Mulher", a ser comemorado em 8 de março, é um alerta
Estimado leitor, os noticiários, no campo das relações afetivas, evidenciam que as coisas não andam nada amigáveis, pois as contendas familiares deixaram o discreto ambiente doméstico para ganhar as redes sociais. Além disso, muitas matérias dão conta de que a violência contra as mulheres persiste. Ainda que a legislação tenha endurecido muito, as agressões às companheiras se tornam cada vez mais intensas, com requintes de crueldade. Nisso, muitos indagam: como pode haver tanto rancor no coração do homem se, no passado, dizia-se apaixonado. E, agora, mostra um intenso furor que o transforma num animal irracional, já que é capaz das maiores atrocidades possíveis.
Infelizmente, nesse contexto, as mulheres têm sofrido as piores situações, nas mãos de seus esposos, amantes ou companheiros. Afinal, são vítimas indefesas de todo o tipo de agressão, principalmente quando os desejos dos parceiros não são atendidos plenamente. Tudo começa com xingamentos, humilhações e intimidações. Depois das ameaças, dão empurrões, além de surras. E, na última etapa, aquele que, no altar jurou amor eterno, parte para as mais vis das ações: sacrificar a mãe de seus filhos, aquela que, um dia, foi objeto de todo amor e carinho.
Assim, diariamente, notícias mostram que, muitas vezes, os agressores partem para o espancamento. Até mesmo em seus locais de trabalho são importunadas por aquele que, no dizer dos psicanalistas, “teve o ego machista ferido, porque ouviu um não”.
Nesse contexto, muitas, sozinhas em seus quartos, ou mesmo em ruas ermas, tornam-se alvos fáceis nas mãos de perversos tiranos. Com isso, as vítimas nem sempre conseguem escapar com vida. E, quando isso acontece, ficam as amargas sequelas, com marcas físicas e psicológicas que o tempo não apaga. São cicatrizes que ficam na alma de quem apenas sonhou formar um lar feliz.
As consequências são: faces desfiguradas, olhos esbugalhados de tantos socos, hematomas graves pelo corpo, além de facadas em pontos vitais. Ou pior, disparos de armas de fogo. Mas, como? Ninguém explica como um revólver entra nesse triste enredo. Nem como o pacato pai de família conseguiu ter acesso a uma arma de fogo.
Diante desse quadro social crítico, só nos resta uma pergunta: qual o motivo de tanto ódio? Ciúmes, suposta traição, insatisfação sexual. Especialistas arriscam dizer que, na maioria das vezes, os maridos alegam que a rotina empobreceu a vida a dois. Pesquisas revelam: quando o marido bebe, o lar vira um inferno. A literatura e o repertório do chamado “sertanejo urbano” estão repletos de situações que evidenciam tais situações. Muitas peças do polêmico Nelson Rodrigues mostram casamentos que desmoronam por causa de ciúme e traição. Ambientado na cena carioca dos anos 50, os textos desse dramaturgo evidenciavam o pensamento machista que predominava naquele período. Tanto que à mulher cabia a culpa pelos erros do companheiro.
Porém, é bom ressaltar que era outra época. Os tempos mudaram e o machismo não encontra mais eco na sociedade. Além disso, nada, nada mesmo, justifica uma ação violenta de um homem contra uma mulher. E, por mais que existam leis e medidas protetivas, a exemplo do “botão do pânico” adotado em Sorocaba, o feminicídio, lamentavelmente, é uma amarga realidade com a qual as brasileiras se confrontam diariamente.
Dessa forma, mais do que uma simples lembrança, o “Dia Internacional da Mulher”, a ser comemorado em 8 de março (nesta quarta-feira), é um alerta para que esses acontecimentos lamentáveis nunca mais ganhem as manchetes dos jornais. Afinal, o ódio, tão visível hoje, não pode prevalecer no ambiente doméstico. Pois, quando um casal decide trilhar a mesma jornada, o respeito mútuo, o amor verdadeiro, a compreensão, o clima de carinho e a tolerância devem prevalecer. Do contrário, não é casamento, é sessão de tortura. Bom Domingo!
João Alvarenga é professor de redação