Filmes do Youtube: ‘Hannah Arendt’ (parte 1 de 5)
Hannah Arendt (1906-1975) foi uma das filósofas políticas mais influentes do século 20. Por ser judia alemã, foi forçada a sair da Alemanha em 1933, quando Hitler ascendeu ao poder. Refugiou-se na França mas, com a invasão do país pelo exército alemão em 1941, emigrou para os Estados Unidos. Ela é autora de obras fundamentais para o estudo do totalitarismo, do mal, da liberdade etc. O leitor conseguirá acessar o filme de gratuitamente no Youtube, procurando por “hannah arendt margarethe von trotta”.
O filme expõe do processo de elaboração das ideias que levaram Arendt a fundamentar o conceito de “Banalidade do Mal”, exposto no seu livro “Eichmann em Jerusalém”, de 1963, que trata do julgamento de Adolf Eichmann em Israel por sua participação no genocídio de judeus durante o nazismo na Alemanha. O filme tem depoimentos originais do próprio Eichmann durante o julgamento.
Creio que esta série de artigos poderá ser útil ao leitor para a sedimentação de algumas das ideias da pensadora alemã mostradas no filme e que me parecem importantes nos dias de hoje.
Para escrever de forma simplificada sobre o conceito de “Banalidade do mal” empregarei os livros de autoria de Arendt e suas entrevistas. Usarei também obras e entrevistas de outros autores, entre eles Marcia Tiburi que em seu livro “Filosofia prática” e em seus depoimentos no Youtube expôs de maneira mais acessível o complexo e polêmico conceito de filósofa alemã. Utilizarei também o artigo de Aline Matos da Rocha intitulado Hannah Arendt e a dimensão política da ausência de pensamento publicado na revista Ideação.
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O conceito de “Banalidade do mal” é muito citado e frequentemente de forma incorreta. Ele não afirma que o mal está banalizado -- ou seja, espalhado por todos os cantos -- e que precisamos tomar cuidado para que ele não nos atinja. Isto, de fato, não seria uma grande novidade.
A palavra “banalidade” diz respeito ao que é normalizado, ao que se torna habitual, que faz parte do nosso cotidiano, aquilo que pode ser partilhado, aquilo que se tornou comum. Nossos olhos e nossa mente já não se espantam com aquilo que se tornou banal para nós. Podemos observar esse fato na nossa vida cotidiana. Por exemplo, para o indivíduo que visita Sorocaba e gosta de História, a sede da Fundec é um edifício peculiar, porque tem quase 180 anos, já foi um teatro elegante, recebeu a visita de Pedro II, abrigou a Prefeitura Municipal e a Câmara dos Vereadores e hoje é um importante Centro Cultural. Mas, para quem passa constantemente pela rua Brigadeiro Tobias, o prédio da Fundec é um edifício como tantos outros e sua presença se torna banal, costumeira, faz parte do seu dia a dia. Esse é um exemplo simples, mas que ajuda a entender a noção de banalidade como conceituada por Arendt.
O mal também pode se tornar banal, costumeiro, fazer parte do dia a dia, perder seu caráter extraordinário. Arendt construiu o conceito de banalidade do mal analisando o comportamento de Eichmann durante o processo em Israel. Eichmann seria um cidadão que representaria o indivíduo que incorporou a banalidade do mal na medida que, como funcionário do regime, se entregou totalmente ao governo, ao estado, ao programa de extermínio do qual participava.
Esta série de artigos está incluída no projeto Cine Reflexão da Fundec