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João Alvarenga

A importância do leitor (Dedicada aos admiradores da coluna)

É engodo imaginar que o leitor é um ser passivo, um mero receptor de informações, sem personalidade própria. Muito pelo contrário! A prática da leitura o torna um crítico da realidade

11 de Novembro de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
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Crônicas Sorocabanas

Em sincera manifestação, o leitor Adair Alves Filho externou, no “Espaço do Leitor”, sua satisfação ao apreciar textos de alguns colunistas que, costumeiramente, ganham espaço neste centenário matutino. Tal consideração não poderia passar em branco, uma vez que o ofício da escrita é uma árdua tarefa diária, seja para o jornalista com a missão de bem informar, seja para o cronista que tenta quebrar o gelo do próprio noticiário, com algo mais leve que promova a reflexão.

Por isso, os conselhos Olavo Bilac são sempre bem-vindos aos que se aventuram no terreno arenoso do ato de escrever; afinal, qualquer deslize pode surtir efeito contrário, ou seja, gerar mais críticas do que elogios. Bilac compara a arte da escrita ao trabalho de um fabricante de joias que, cuidadosamente, esculpe os vocábulos para torná-los preciosos: “Quero que a estrofe cristalina, dobrada ao jeito do ouvires, saia da oficina sem defeito”.

Todavia, a agrura de quem escreve não é objeto desta crônica. Hoje, este espaço é dedicado aos leitores, razão maior da existência do próprio jornal (quiçá toda obra escrita), uma vez que ninguém escreve ao vento. No fundo, é o avesso disso! Na verdade, deseja, de alguma forma, tocar aquele que, ao acaso, sentiu-se motivado a ler determinado texto, principalmente nos dias de hoje, em que a virtualização da sociedade substitui as palavras por imagens desconexas.

Desse modo, não é exagero afirmar que o leitor é o combustível do escritor, ou seja, a mola propulsora do processo da escrita que se nutre apenas do reconhecimento. O saudoso cronista Rubem Braga, enfatizava: “há uma simbiose, pois escritor e leitor completam um ciclo, ao dialogarem, em silêncio, sobre o assunto tratado no texto”.

Para finalizar, é engodo imaginar que o leitor é um ser passivo, um mero receptor de informações, sem personalidade própria. Muito pelo contrário! A prática da leitura o torna um crítico da realidade. Para o historiador Leandro Karnal, nenhum leitor é ingênuo, mas cúmplice da própria escrita.


*João Alvarenga é professor de redação.