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Dom Julio Endi Akamine

Ascensão do Senhor

Na condição terrena, a sua presença estava limitada a um tempo e a um lugar. Agora, a presença glorificada nos torna contemporâneos e conterrâneos de Jesus

15 de Maio de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Dom Júlio Endi Akamine.
Dom Júlio Endi Akamine. (Crédito: Manuel Garcia (11/7/2019))

 

A ascensão é o mistério conclusivo da vida de Jesus.

Quando falamos de céu, não devemos pensá-lo como o espaço acima de nós. Desde que foi explorado pelo ser humano através de satélites e de foguetes, o céu para onde subiu Jesus não pode ser mais entendido como espaço geográfico.

O que então significa dizer que “Jesus subiu ao céu”? A resposta nos é dada pelo evangelho: “Jesus foi elevado ao céu e sentou-se à direita de Deus”. Jesus não entra em um “lugar”. Ir para o céu significa ir para junto de Deus; estar no céu não é estar em um lugar, mas estar com Deus.

Mais do que isso. O céu em si não existe, mas se forma quando a humanidade de Cristo, assumida na encarnação, é glorificada. Jesus não subiu a um céu que já existia, mas subiu para formar o céu: “Vou preparar-vos o lugar. Depois de ir vos preparar o lugar, voltarei e vos tomarei comigo, para que, onde eu estou, estejais também vós” (Jo 14,2-3). O céu é, portanto, o corpo de Cristo ressuscitado com o qual nós nos uniremos para formar um só Espírito com Ele.

Para Jesus, o céu é o Pai: “Eu vou para o Pai”. “Eis que agora vou junto a ti, ó Pai”! Subir ao céu significa que Jesus, como homem e com o seu corpo, é glorificado pelo Pai, com a glória que Ele, como Filho de Deus, sempre teve desde toda a eternidade. Assim, com Jesus, um de nossa humanidade chegou a Deus e foi nele glorificado e acolhido. Trata-se das primícias e do prelúdio de uma grande colheita. Em Jesus que sobe ao céu, vemos a realização do que esperamos que aconteça também conosco.

Algo semelhante acontece na Eucaristia. Nela apresentamos a Deus um fragmento de nosso mundo, o pão e o vinho, como nossa oferta humilde e pobre. Deus acolhe nosso pão e vinho e os devolve para nós como presença misteriosa do seu Filho: o seu corpo e sangue. Ele toma posse de uma partícula de nosso mundo para consagrá-lo por inteiro na transparência do Filho Jesus.

A ascensão atesta também que Jesus está conosco. Ele foi para o Pai e voltará no fim dos tempos, mas, ao mesmo tempo, Ele continua conosco. A ascensão não é o movimento contrário do Natal.

Não é a mesma presença de antes. A presença Dele não é mais segundo a carne, mas segundo o Espírito. Nessa nova condição, Jesus pode se tornar presente a cada um de nós, em qualquer lugar da Terra e da história. Na condição terrena, a sua presença estava limitada a um tempo e a um lugar. Agora, a presença glorificada nos torna contemporâneos e conterrâneos de Jesus.

A ascensão marca a sua presença no nosso mundo. Não só subimos ao céu com Jesus, mas o mundo, por causa da glorificação Dele, se tornou a sua habitação e, portanto, também céu. Com a ascensão toda a nossa realidade, por causa da presença de Jesus, se torna de certa forma transparência Dele.

A presença de Cristo, no entanto, tem um ponto de maior densidade e de concentração. Ele está presente sobretudo na pessoa humana e, de modo ainda mais concentrado, nos pobres e sofredores deste mundo. Se há algo que coloca uma pessoa como maior transparência de Jesus e como lugar de maior densidade da sua presença, essa consiste no grau de sua pobreza, de seu sofrimento e de sua humilhação. Com estas pessoas a presença de Cristo é máxima: “foi a mim que o fizestes... foi a mim que não o fizestes”.

As pessoas sempre perguntam: como será a vinda de Jesus e quais serão os sinais que acompanham tal vinda? Com a ascensão do Senhor, nós devemos reconhecer que Ele não virá somente do céu, mas também contemporaneamente da “terra”. Ao subir ao céu, Jesus está mais presente na Terra do que podemos imaginar, e a sua segunda vinda mostrará o quanto a nossa realidade está carregada da sua presença.

Dom Julio Endi Akamine é arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Sorocaba