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As autoras de ‘Feminismo para os 99%’: Tithi Bhattacharya, Nancy Fraser e Cinzia Arruzza

Por Cruzeiro do Sul

As autoras de ‘Feminismo para os 99%’: Tithi Bhattacharya, Nancy Fraser e Cinzia Arruzza.

O livro “Feminismo para os 99%” define “feminismo neoliberal” como aquele que leva mulheres a contentar-se com melhores cargos no mercado de trabalho e se recusa a atuar sobre as restrições socioeconômicas que tornam a liberdade e o empoderamento impossíveis para a grande maioria de mulheres. O ardil neoliberal consiste em colocar em altos cargos algumas poucas mulheres para servir de argumento de que não há desigualdade de gênero no neoliberalismo. Hillary Clinton e Sheryl Sandberg (chefe operacional do Facebook) seriam algumas representantes dessa categoria de feminismo neoliberal. O mesmo ardil é empregado na publicidade e nos filmes comerciais em que lindas mulheres são poderosas, fortes, assertivas e homens são encolhidos, apalermados, assustados.

As autoras pretendem engajar todos os movimentos feministas para enfrentar o que chamam de crise do capitalismo: “Quatro décadas de neoliberalismo derrubaram os salários, enfraqueceram os direitos trabalhistas, devastaram o meio ambiente e usurparam as energias disponíveis para sustentar famílias e comunidades tudo isso enquanto os tentáculos do sistema financeiro se espalhavam pelo tecido social”.

Além de gerar colapsos periódicos no mercado, falências em cadeia e desemprego em massa, o capitalismo abriga outras contradições:

1- Contradição ecológica, que é a tendência de utilizar gratuitamente e não renovar a natureza para liberar energia e matéria-prima de que necessita e, ao mesmo tempo, gerar resíduos de que não cuida.

2- Contradição política: “Cativos do poder corporativo e enfraquecidos pela dívida, os governos são cada vez mais vistos por seus governados como serviçais do capital, que dançam pela música dos bancos centrais e dos investidores internacionais, dos gigantes da tecnologia da informação, dos magnatas do setor energético, dos que lucram com as guerras. (...). O resultado é declarar vastas áreas da vida social fora dos limites do controle democrático e entregá-las à dominação corporativa direta. (...) Em suma, o capitalismo é fundamentalmente antidemocrático”. A crise de 2008 mostrou que o neoliberalismo quer privatização generalizada, propaga a ineficiência dos governos, mas recorre a eles para salvá-los com dinheiro público quando se tornam vítimas da sua própria patifaria.

3 - Contradição da “reprodução social”, conceito que requer uma breve explanação. Trabalho assalariado, produção, troca e sistema financeiro são as instituições oficiais do capitalismo. Para o funcionamento dessas instituições são necessários seres humanos com habilidades adequadas. O suprimento dessas pessoas constitui a “reprodução social”. Compreende atividades individuais e coletivas da classe trabalhadora (alfabetização, preparação profissional, emocional etc.), bem como uma série de tarefas, geralmente privatizadas no lar e não remuneradas: maternidade (gestação, parto, lactação, cuidado das crianças), cuidado com doentes e idosos, limpeza etc. O capitalismo não se ocupa do trabalho de reprodução social, apenas o despeja sobre mulheres, comunidades e Estados. Afirmam as autoras: “Enquanto o neoliberalismo exige mais horas de trabalho remunerado por unidade familiar e menos suporte estatal à assistência social, ele pressiona até o limite famílias, comunidades e (acima de tudo) mulheres”.

Esta série de artigos está incluída no projeto Cine Reflexão da Fundec

nildo.maximo@hotmail.com