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Celso Ming

Impacto global desta guerra

O principal efeito econômico desta guerra é a disparada da inflação global. Mas a estocada nos preços da energia, dos alimentos e dos metais não é tudo

05 de Março de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: REPRODUÇÃO / INTERNET)

Celso Ming

O nível de incertezas produzidas por essa invasão da Ucrânia continua o mesmo de quando começou ou até aumentou. Mas, há mais de uma semana, as pessoas se perguntam até onde vai isso.

Na quarta-feira (2), os preços do barril de petróleo tipo Brent fecharam a US$ 112,93, 7,58% acima das cotações da véspera. Mas haviam chegado a US$ 114. Em apenas dez dias, a alta é de 22,13%. Já há analistas que falam em petróleo a mais de US$ 150 por barril.

A disparada não se limitou ao petróleo. No mesmo período, os preços da soja subiram 4,5%; os do milho, 11,9%; e os do trigo, 31,7%.

Por enquanto, a Petrobras preferiu esperar por uma certa estabilização antes de reajustar os preços internos. Novas pancadas parecem inevitáveis, apesar das pressões políticas.

Ninguém espera que o governo Putin concorde com a retirada das tropas apenas em troca da promessa do governo ucraniano de não aderir à Otan, o pacto de defesa do Ocidente.

Mas a imposição de um governo alinhado pode não ser o fim de tudo, porque está para ser demonstrada a capacidade de resistência clandestina da população à ocupação russa.

O principal efeito econômico desta guerra é a disparada da inflação global. Mas a estocada nos preços da energia, dos alimentos e dos metais não é tudo.

Está para ser avaliada nova desorganização dos fluxos de mercadorias e serviços -- não mais em consequência da pandemia, mas da guerra. Não há como o Brasil evitar o impacto da alta de preços e dessa nova desarrumação.

Os grandes bancos centrais terão de decidir se contra-atacam a inflação ou se mantêm frouxa a oferta de moeda para enfrentar novo período de quebra da atividade econômica.

Os efeitos mais profundos são de ordem geopolítica. O conflito conseguiu dar força à Otan e à ONU. A União Europeia obteve mais razões para agilizar seus processos de tomada de decisão. Parecem iminentes os reforços aos orçamentos de Defesa na Europa, com rearmamento da Alemanha.

A guerra tirou o foco das relações Estados Unidos-China. Alguns analistas já imaginam que os guardiões da atual ordem política mundial não terão condições de neutralizar novas fontes de tensão no planeta -- situação que favoreceria o jogo da China, especialmente em Taiwan.

Questão menos examinada é até que ponto essa guerra poderá interferir nos atuais cronogramas da transição energética. A disparada dos preços do petróleo sugere que mais capitais serão canalizados para apressar a troca dos combustíveis fósseis.

Mas pode acontecer o contrário, que mais investimentos se voltem para aumentar a produção de petróleo e gás. A conferir.

Celso Ming é jornalista e comentarista de economia