Roque Dias Prestes
Não se deve sofrer por antecipação
Observamos no Eclesiastes 3, que tudo deve acontecer no tempo certo, ou seja porque realmente, há um tempo certo para todas as coisas
Roque Dias Prestes
A cada dia, a solução dos seus problemas. Esta é uma ótima receita para uma vida normal, saudável, sem sobressaltos e com muita tranquilidade. Muita gente, porém, não pensa dessa maneira e acaba até perdendo o sono, porque não conseguiu nesse dia expirante, dar cabo de alguma tarefa ou cumprir algo que havia planejado.
Não é que o livro sagrado aconselhe o “dulce far niente”; mas, observamos no Eclesiastes 3, que tudo deve acontecer no tempo certo, ou seja porque realmente, há um tempo certo para todas as coisas.
É exatamente por isso que não se deve, a ferro e fogo, apressar nada. Ademais, bem a propósito, deve ser lembrado o brocardo: “O apressado come cru ou muito quente”.
Não se deve perder de vistas, que o sujeito impaciente, muitas vezes, padece de ansiedade e outros transtornos de ordem psicológica. Não é fácil sua convivência, pois raramente demonstra estar satisfeito.
É exatamente por tudo isto, que sempre defendi a aplicação na vida prática das pessoas este pequeno e importante pensamento: “Não se deve sofrer por antecipação”.
Todavia, há mais de três anos, quando precisei fazer a renovação da minha Carteira Nacional de Habilitação (CNH), recebi a desagradável informação do médico credenciado pelo Detran de que havia sido reprovado no exame de vista. Fui instruído para procurar um cirurgião oftalmologista, porque meus olhos estavam com catarata em sua forma bem avançada. Me informou, ainda, que a catarata se aloja nos olhos gradativamente e a gente vai perdendo a visão, a princípio, sem perceber.
Sai do consultório bem contrariado e procurei, junto ao meu convênio de saúde, o profissional que prestasse esse serviço. Feito isso, autorizada a cirurgia, pouco mais de um mês depois, foi operado o meu olho direito; passado outro período igual, foi a vez do outro olho. Felizmente, a recuperação da minha visão foi rápida e excelente.
Renovei a CNH e minha vida seguiu o seu curso natural. Entretanto, faz uns quatro meses, percebi que meu olho esquerdo começou a apresentar certa dificuldade para enxergar e essa anomalia progrediu para um embaçamento. Sem mais demora, voltei à clínica para nova consulta com o cirurgião que havia operado os meus olhos. Depois de examinar, o médico informou que, após certo tempo depois da cirurgia da catarata, muitos pacientes precisam fazer uma limpeza nos olhos. E este era o meu caso; não era para me preocupar, porque se tratava de um procedimento indolor, relativamente rápido e simples.
Formalizado o pedido, poucos dias após, o convênio de saúde autorizou o procedimento. No dia agendado, compareci ao Banco de Olhos de Sorocaba (BOS) uma hora antes, para a limpeza dos meus olhos.
Contudo, me foram cruciais os dias passados depois dessa consulta médica. Muitos “palpiteiros de plantão” disseram que o procedimento não seria realizado na forma preconizada pelo médico, porque sua complexidade era igual à da cirurgia da catarata: o médico iria remover a lente que fora colocada em cada olho, limpá-la e recolocá-la no mesmo lugar.
Confesso que não sou um cara com muita coragem; sabem bem disso, aqueles que leram o meu primeiro livro -- “A história da minha vida”, que lancei em 2011. Tive noites mal dormidas, minha pressão arterial foi às alturas, dentre outras consequências da minha ansiedade.
Não gostei muito, porque o procedimento foi marcado para um dia 13. Ainda bem que não foi uma sexta-feira; para meu consolo, ocorreu na quinta-feira, deste corrente mês.
Com uma pontualidade britânica invejável, o médico chegou e foi logo me convidando: “Dr. Roque, pode entrar”. A pupila de cada olho estava dilatada, depois de vários pingos de colírio. Me sentei defronte a uma máquina, posicionando meu rosto bem próximo de uma lente, a qual projetava uma luz intensa por alguns minutos na direção de cada olho.
A seguir, o médico pegou um bloco de receitas e começou a escrever, ao mesmo tempo que balbuciando, perguntei: “E agora, doutor?” Ele me respondeu: “Sua visão ficará cem por cento, ótima novamente e quero vê-lo no meu consultório, daqui a 40 dias.
Desde então, estou pingando dois tipos de colírio; um a cada 3 horas, durante 10 dias e outro, a cada 8 horas, por 15 dias.
Voltei para casa contente e ao mesmo tempo, me repreendendo, pelo sofrimento que me impus, antecipadamente.
Roque Dias Prestes é advogado, escritor, jornalista, professor aposentado e presidente da Academia Votorantinense de Letras, Artes e História