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Celso Ming

A disparada dos preços do petróleo

As pressões políticas para que a Petrobras absorva prejuízos tendem a aumentar neste ano eleitoral

08 de Janeiro de 2022 às 00:29
Cruzeiro do Sul [email protected]
Celso Ming.
Celso Ming. (Crédito: Arquivo Pessoal)

Celso Ming

As cotações do petróleo voltaram a galopar no mercado internacional. Apenas nos primeiros quatro dias úteis do ano, os preços do tipo Brent subiram 5,4%. Em 30 dias, avançaram 12,4%.

Os analistas apressaram-se a buscar explicações imediatas para essa disparada, como a das crises no Cazaquistão e na Líbia. Mas, se não essas, poderiam ser outras, a começar pela falta de disposição do cartel da Opep de aumentar a oferta mundial.

O principal fator a considerar é que, independentemente de eventuais detonadores, os preços já estão fortemente instáveis, com tendência para alta. Como o ambiente geral no mercado internacional é de aumento das contaminações pela Covid-19, seria de esperar efeito contrário. Ou seja, com a volta de políticas restritivas e de distanciamento social, a atividade econômica tende a se enfraquecer e, com ela, seria enfraquecida também a demanda por energia.

No entanto, parece prevalecer o temor de que o fluxo de produção e comercialização volte a se complicar e, com isso, os países consumidores estejam tratando de reforçar seus estoques de petróleo -- o que aumenta a demanda imediata.

Reafirma essa impressão a suspensão e adiamento de voos e cursos de navegação porque as tripulações de aviões e de navios estão infectadas pelo coronavírus. É perspectiva de menos mercadorias e menos insumos chegando ao seu destino final.

A esta altura não há condições de antever com segurança o comportamento dos preços. É incerteza que reforça a alta.

O impacto sobre a economia do Brasil enfrenta outras fontes de pressão. A mais importante recai sobre a Petrobras. Na quinta-feira (6), a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) avisou que a falta de reajustes dos preços internos de combustíveis inviabiliza as importações.

A “defasagem” nos preços pode não ser de 7% para o diesel e de 8% para a gasolina, como calcula a Abicom, mas é inegável que, pelos critérios da paridade internacional de preços em reais, com base nas cotações externas e na evolução do câmbio, há atrasos nas correções.

A Petrobras está sob pressões em torniquete. Do ponto de vista técnico será preciso reajustar os preços para cima, o que também seria inflação na veia. Mas as pressões políticas para que a Petrobras absorva prejuízos tendem a aumentar neste ano eleitoral.

Também na quinta-feira, o presidente Bolsonaro chegou a apontar a inexistência de investimentos em refinarias como fator de encarecimento dos preços internos, o que seria pressão adicional para que a empresa adote mais critérios sociais ou políticos do que técnicos. E não esconde que pretende segurar ou abater os preços internos.

Celso Ming é comentarista de economia