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As tradições natalinas trazem paz ao mundo

Artigo escrito por Vanderlei Testa

21 de Dezembro de 2021 às 00:01
(Crédito: ARTE: VT)

 

Ana Luiza Sturion Grisoto é uma prima que mora em Brasília. Nasceu em Piracicaba. Ela valoriza as tradições de Natal como o sapato das crianças embaixo da cama para receber presente. A chaminé do Papai Noel. A barba branca e as roupas do bom velhinho. O carrossel mágico iluminado girando ao som de “jingle bells”. Ana Luiza e seus pais, Amauri e Lurdinha, não se esquecem de suas raízes de Natal em Piracicaba. Quando criança, eu passava o Natal nessa cidade, onde os meus pais nasceram. Eu ficava hospedado na casa de meus avós maternos, Rosa e Ferrucio. Havia um envolvimento familiar com o espírito natalino de 25 de dezembro, data considerada pelos cristãos como o nascimento do Menino Jesus. A melhor época do ano.

A árvore de Natal no cantinho da sala era um pinheiro com bolinhas vermelhas. Não tinha essas lâmpadas atuais multicoloridas. O estilo italiano e a simplicidade da ceia eram marcantes. Meu tio Adelino trabalhava em um supermercado. Conseguia descontos e providenciava o peru da ceia. Bebidas eram poucas e sem álcool, em especial a gengibirra. O melhor Natal de todos não é feito de luxo ou bebedeiras, presentes que deixam contas no cartão de crédito durante todo o ano. A oração de agradecimento pelo Natal trazia paz na casa. No anoitecer, os planos do Natal mágico das crianças se tornava real com os pacotes perto dos sapatos. Jamais esquecerei o meu primeiro presente. Uma sanfoninha. O canto da música “Feliz Natal” emocionava o ambiente.

Quando estava em Sorocaba, as confissões de Natal, quando garoto -- nos meus 11 anos de idade -- e participando da preparação da primeira Eucaristia, faziam parte das obrigações assumidas no catecismo e das minhas lembranças natalinas. Sem muita consciência entre o que era certo e errado, fato natural nessa faixa etária, eu e os amiguinhos da turma de catequizados fazíamos fila no confessionário. O padre franciscano de origem alemã entendia pouco de português, mas procurava orientar a criançada na paróquia de Bom Jesus. O presépio montado na entrada da igreja era muito bonito. Uma tradição que os freis caprichavam em mostrar. As figuras dos personagens da decoração foram trazidas da Alemanha, contavam meus pais.

Há uma tradição de Natal que me deixava curioso quando criança. A Missa do Galo. Esse nome intrigava minha cabeça. Pensava: porque o galo precisava de missa? Eu via o galo cantar no poleiro do galinheiro, ser abatido como um animal no sítio de meus tios, enfim, uma data tão comentada como o Natal, ter um ato religioso chamado de “Missa do Galo”! Na época não tinha o Google e ninguém explicava ou sabia como surgiu esse nome.

A celebração da Missa do Galo é do século V, por decisão do papa Sisto III. Dizem até que essa tradição natalina cristã surgiu no século II. A dúvida é que nesse século II não se celebrava o nascimento de Jesus Cristo e, nem se acreditava que ele teria nascido no dia 25 de dezembro. Missa do Galo é a missa celebrada na véspera de Natal que começa à meia noite do dia 24 para o dia 25 de Dezembro. A denominação “Missa do Galo” é mais específica dos países latinos. Ela deriva da lenda ancestral segundo a qual à meia-noite do dia 24 de dezembro um galo teria cantado alto, como jamais ouvido de outro animal semelhante, anunciando a vinda do Messias, filho de Deus.

Outra tradição natalina é o presépio. É considerada a representação, em estilo decorativo, um sacramental e símbolo do nascimento de Jesus em uma manjedoura, prática comum entre os cristãos católicos. O presépio, dizem, foi criado por São Francisco de Assis, em 1223, durante uma pregação natalina no interior da Itália. São Francisco de Assis usou essa alegoria para facilitar a compreensão daqueles que ouviam sua pregação sobre o nascimento de Jesus. A prática de montar presépio foi bem aceita pelos fiéis das igrejas e caiu nas graças da população cristã e artistas plásticos. Essa tradição natalina se expandiu rápido nos países da Europa e em outros continentes, como em países latinos. O Brasil é um exemplo da montagem de presépios.

A árvore de Natal é considerada o símbolo de Natal mais conhecido do mundo. Uma prática originária da Antiguidade. A árvore de Natal faz parte da imaginação e tradição mundial. Esse símbolo, acredito, foi inspirado na celebração dos nórdicos no período do solstício de inverno (21 de dezembro). A festividade nórdica considerava um pinheiro como decoração, sendo um importante símbolo de fertilidade.

No Brasil o costume de montar a Árvore de Natal tem a tradição católica do seu início no tempo do advento no calendário litúrgico do cristianismo. A árvore fica exposta até o dia 6 de janeiro, celebrado como Dia de Reis. A tradição de colocar uma estrela no topo da árvore de Natal representa a Estrela de Belém. Simboliza a estrela que guiou os três Reis Magos até onde Jesus nasceu. De acordo com a tradição, a estrela deve possuir quatro pontas, representando os pontos cardeais e uma cauda luminosa, assim como a estrela cadente.

Outra tradição de Natal que faço todos os anos na porta de casa é a guirlanda. A tradição relata que foi criada pelos romanos antigos. Eles as colocavam na porta de suas casas representando saúde para todos os moradores. Era produzida de galhos verdes, entrelaçados com cipreste.

Nas igrejas católicas a coroa do Advento de Natal prepara os católicos à vinda de Jesus. É decorada com quatro velas com cores diferentes. Uma para cada domingo. Acompanho essa tradição do Advento na Comunidade do Divino Espírito Santo do jardim Saira, onde tive o privilégio de acender a vela verde, a primeira das quatro, agradecendo a vinda do Menino Jesus entre nós.

Feliz e santo Natal a todos!

Vanderlei Testa ([email protected]) é jornalista e publicitário. Escreve às terças-feiras no jornal Cruzeiro do Sul.