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Filmes da Netflix: "Homicídio na Costa do Sol" (parte 2 de 2)

Artigo escrito por Nildo Benedetti

10 de Dezembro de 2021 às 00:01
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Justiça, imprensa e opinião pública se uniram para condenar injustamente Dolores Vazquez.
Justiça, imprensa e opinião pública se uniram para condenar injustamente Dolores Vazquez. (Crédito: REPRODUÇÃO)

Em sua obra “Sociedade do Espetáculo”, Guy Debord escreveu que o espetáculo é o modelo atual de dominação da sociedade. Sob todas suas formas particulares, informação, propaganda, publicidade ou consumo direto de divertimentos, o espetáculo constitui o modelo dominante da vida social. Toda a vida das sociedades se anuncia como uma imensa acumulação de espetáculos. O discurso do espetáculo é falacioso, enganador, sedutor, insidioso e capcioso. Por isso, o espetáculo pode ser definido como a falsa representação da vida real levada às últimas consequências no plano da produção cultural por meio de imagens. O espetáculo não pretende esclarecer a verdade, como faz a Arte -- mas falseá-la. Não é um suplemento do mundo real, uma decoração adicionada: é o coração da irrealidade da sociedade real.

A publicidade é uma forma de espetacularização. O objetivo da publicidade é o de levar o indivíduo a acreditar que a felicidade pode ser alcançada por meio da posse de objetos. Embora na contemporaneidade a liberdade reina e o prazer deva ser levado ao máximo, a crença do poder mágico dos objetos produziu uma nova forma sutil de escravidão por tornar o homem consumidor compulsivo e perenemente insatisfeito, que espera que no novo objeto que aspira a consumir encontrará finalmente aquilo que lhe falta. Essa forma de desejo está intimamente relacionada com a sociedade de consumo e é decorrência do fato de o mercado, por meio da publicidade, simular o objetivo de querer levar a felicidade ao consumidor e induzi-lo a desfrutar o melhor que pode da existência dessa necessidade. Por isso, o discurso espetacular da publicidade esconde tudo o que é secreto e tudo o que lhe convém: é a mentira metódica que cria uma relação de poder que é exercida entre produtores e consumidores. O espectador não tem como contestar as mentiras da publicidade e, portanto, tudo se passa como se o anunciante exercesse sobre o espectador uma censura perfeita.

A inteligência do ser humano produz as tecnologias que geram imagens. Estas são as principais responsáveis pela sociedade do espetáculo. A presença massiva de imagens induz à passividade e à perda da capacidade de decidir. Os especialistas da elaboração do espetáculo são sagazes e perspicazes, sabem que estão mentindo e o fazem de modo científico. Políticos, marqueteiros, produtores de TV, publicitários etc. têm o poder absoluto de linguagem do espetáculo. Estão corrompidos pela sua experiência do desprezo que têm pelo espectador e reencontram seu desprezo confirmado no comportamento daquele espectador que se torna passivo, que perde o livre-arbítrio, que não raciocina com lógica. A lógica só se forma socialmente pelo diálogo e não pela via de direção única proporcionada pelo espetáculo. A mentira sem contestação provoca o desaparecimento da opinião lógica e a ausência de opinião lógica afeta a política, as ciências, a justiça e o conhecimento artístico.

As novas tecnologias de comunicação podem ser benéficas ou maléficas. Mas, ao darem voz a qualquer idiota ou impostor, agravam drasticamente os danos provocados pelo espetáculo de imagens que foram acima enunciados.

Na próxima semana escreverei sobre “A viagem”.

Está série de artigos está incluída no projeto Cine Reflexão da Fundec

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