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Do Jubileu celebrado com Júbilo

Artigo escrito por Edgard Steffen

04 de Dezembro de 2021 às 00:01
(Crédito: DIVULGAÇÃO / PUCSP)

As lágrimas deste salmo devem ser entendidas como trabalho árduo, exaustivo. Você traçou um rumo, estabeleceu objetivos, quantificou metas e venceu obstáculos em seu caminho. Não pode viver ancorado no que passou. Pior lamentar o que não deu certo. Não existe o “bons tempos”. A vida é o hoje. Para idosos, hora da colheita.

Não é pecado ter saudades. Gosto de escrever sobre o passado. Não para louvá-lo nem para corrigir desacertos. Serve-me como temática, atualização e comparação de conceitos, relembrar trechos da vida profissional ou simplesmente exercitar o prazer de ocupar este honroso espaço.

No último sábado meu coração pulsou alegre porque revisitei o lugar onde vivi produtivos dias. Escadas não foram obstáculos aos meus cansados músculos e desgastadas articulações. Moderno elevador transportou-me ao 3º andar onde ficava a Parasitologia. Muito aprendi naquele espaço durante o convívio com o professor Carlos D’Andretta Jr. Fui assistente e tive por companheiros Mello, Tuffy e Neil (da Bioestatística). Muito importante o relacionamento -- às vezes até conflitantes -- com os alunos. A pedagogia da disciplina baseava-se na rigidez no cumprimento do programa proposto e severidade na avaliação dos discentes. Hoje nos surpreendem manifestações de gratidão. Talvez tenhamos endurecido “sin perder la ternura” do barbudo Guevara (muito em moda nos anos 60), mas com amor (nunca fora de moda) pelo objetivo. A se acreditar no bigodudo Nietzsche, “o que se faz com amor está além do bem e do mal”.

Voltei ao Campus Sorocaba da PUCSP para encontrar os (as) “jovens septuagenários” (as) que vieram comemorar o jubileu de ouro de formatura. Alguns trouxeram familiais. Vendo aquele grupo, considerei a imensidão de histórias ali representadas. Algumas pude ouvir. Há os que ainda exercem a clínica, outros a docência ou/e são especialistas de renome internacional. Outros tornaram-se importantes empresários em atividades não médicas.

Conversei com um que exerceu duas vezes o cargo de prefeito de importante cidade e foi eleito para dois mandatos na assembleia legislativa do Estado onde vive.

Senti algumas ausências. Por exemplo, do hematologista que se radicou em Israel. Sua filha justificou a impossibilidade da viagem. Outro, radicado em Sorocaba, não compareceu por estar proibido pelo médico e pela fase do tratamento a que se submete. Outro ainda, neurologista Rafael, estava inscrito mas partiu um mês antes (17/10/21) do evento. A chamada dos 25 falecidos e a oração de Santo Agostinho, declamada pela dra. Maria Regina Fontana Corrêa, fizeram rolar lágrimas nas faces presentes. Da oração, transcrevo excertos:

A morte não é nada. Eu somente passei para o outro lado (...) Continuarei sendo o que eu era para vocês. (...) Vocês continuam vivendo no mundo das criaturas, eu estou vivendo no mundo do Criador.

Não utilizem um tom solene ou triste. Continuem a rir daquilo que nos fazia rir juntos. (...) Que meu nome seja pronunciado como sempre foi, sem ênfase de nenhum tipo. Sem nenhum traço de sombra ou tristeza.

A vida continua significando tudo o que sempre significou. (...) Não estou longe. Apenas estou do outro lado do Caminho... Você que aí ficou siga em frente. A vida continua linda e bela como sempre foi.*

Na impossibilidade em citar todos os presentes e, em especial, os organizadores, quero saudá-los na pessoa do oncologista/radioterapeuta dr. Sérgio B. Libonati. Elogiar a condução segura da mestra de cerimônias dra. Maria do Carmo B. M. Peterutto e a carinhosa saudação aos mestres proferida pelo dr. Hugo Hypólito.

Se a comemoração do Jubileu da XVIª Turma permitisse avaliação vocês mereceriam a nota máxima. Obrigado! Sigam em frente. A vida -- dádiva do Eterno -- continuará linda e bela como sempre foi.

Edgard Steffen ([email protected]) é médico, escritor e membro da Academia Sorocabana de Letras (ASL).