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A nova ameaça do vírus e a economia

Artigo escrito por Celso Ming

01 de Dezembro de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: REPRODUÇÃO / INTERNET)

Palavras do ministro da Saúde da Alemanha, Jens Spahn: “No final do inverno (março ou abril), haverá alemães vacinados, recuperados ou mortos”.

Essa declaração/diagnóstico foi feita na terça-feira, antes que as autoridades sanitárias da África do Sul anunciassem o súbito aparecimento de nova cepa do coronavírus, aparentemente mais contagiosa e mais letal que a variante Delta -- a responsável pela terceira onda da pandemia. Passa a ser conhecida por Ômicron e já foi detectada em países como Israel e Bélgica. Tem potencial de risco de transmissão ainda maior porque é o resultado de múltiplas mutações genéticas, principalmente na proteína S, a que até agora é manipulada nos laboratórios para obtenção das vacinas de Covid-19.

O mercado financeiro entrou em parafuso na última sexta-feira, principalmente porque ignora o grau de periculosidade da nova onda. As bolsas desabaram, os preços do petróleo WTI fecharam em baixa de 13%, os capitais correram para portos seguros.

O aparecimento dessa novidade traz dupla advertência: a de que a humanidade está sujeita a ataques de vírus cada vez mais letais; e a de que não se pode baixar a guarda, seja em respeito às liberdades individuais seja porque não se pode permitir que a atividade econômica volte a recuar e a colocar em risco o emprego e a renda de tanta gente.

A despeito da política negacionista do presidente Bolsonaro, o Brasil caminha para a imunização total de 60% de sua população e nisso passou à frente de países de economia avançada. Mas, nas últimas semanas vem caminhando na contramão do que passou a ser recomendado pelos imunologistas. Estádios de futebol passaram a receber torcidas que se expõem ao contágio sem nenhum cuidado. Festas e outras aglomerações foram liberadas. O governador de São Paulo anunciou que o uso de máscaras não será mais obrigatório em locais abertos.

Qual é o maior risco para o Brasil? Não é muito diferente do que aquele a que estão sujeitos os demais países. É o de que até mesmo para os plenamente vacinados a imunização seja ineficaz diante da nova cepa, como adverte Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos. Nesse caso, até que os laboratórios desenvolvam novas vacinas, poderá ser necessário regredir ao isolamento social e ao lockdown. “Enquanto novas certezas não estiverem disponíveis, os mercados tratarão de reprecificar seus ativos.” Estarão mais expostos países que já carregam fortes vulnerabilidades, como o Brasil, com suas contas públicas capengantes e inflação de dois dígitos.

“Se houver necessidade de novos lockdowns, será preciso rever novas formas de auxiliar a economia, cujo impacto poderá ser mais déficit fiscal e mais inflação”, avisa Felipe Nascimento, economista-chefe da InvestSmart. (Com Pablo Santana)

Celso Ming é comentarista de economia.