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No mundo das memórias

Artigo escrito por Edgard Steffen

20 de Novembro de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: REPRODUÇÃO / INTERNET)

O Cruzeiro do Sul, fundado em 1903, pode receber o título “Memórias do Mundo” (16/11/2021 pag.7)

De orgulhoso leitor pirajuiense recebo e-mail corrigindo-me por haver escrito que Tito Madi nasceu em Piraju. Corrijo. Chauki Maddi -- que adotou o nome artístico Tito Madi -- nasceu em Pirajuí (SP). A culpa do engano fica por conta dos meus cansados olhos que não enxergaram o “i” final da palavra pinçada na Wikipedia.

Para redimir-me, lembro de personagens famosos que nasceram ou têm sua história ligada àquele município da região noroeste de São Paulo. A ex-ministra Zélia Cardoso Mello, o medalhista olímpico Claudinei Quirino e o jornalista Percival de Souza viveram em Pirajuí. A socialite Carmem Mayrink Veiga, uma das dez mais elegantes do Brasil (anos 50) e o dr. Zé Pedro da Silva, primeiro cirurgião da América Latina a realizar com sucesso transplante duplo coração-pulmão, são pirajuienses de nascimento.

Carlos Alberto Steffen também nasceu em Pirajuí. Pesquisador aposentado, físico, empresário de telefotometria. Pode não ser famoso, mas é unanimemente querido por todo nosso clã. Com seus 80 anos é o mais velho dos meus sobrinhos. Passamos horas agradáveis sempre que nos encontramos. Perto dele não tem tempo ruim. Diferente daquele anjo torto do xará Drummond, um mensageiro droit teria vaticinado -- Vai, Carlos, sê direito em tudo que realize e no que pense da vida!

Esqueçam tudo o que eu disse, frase atribuída ao presidente FHC referindo-se ao senador FHC. Errare humanum est. Erros fazem parte da vida de quem produz alguma coisa. Felizes aqueles cujos erros e enganos não prejudicam o próximo, ou os que a Divina Providência concede tempo para corrigi-los. Um dos componentes da sabedoria dos longevos é resiliência adquirida nos embates da vida. As pedras do caminho ah! sempre lembrado o velho Carlos Drummond de Andrade! -- não servem para serem atiradas nem se destinam ao tropeço do caminhante. São obstáculos a vencer no caminho aos objetivos transitórios ou permanentes de nossas existências.

Revendo crônicas, encontro erros que passaram despercebidos. Troca de nomes, lugares ou datas por desatenção às anotações que serviram de base. A benevolência dos leitores deve ter-me perdoado. Mas, nestes dezessete anos, há textos que preferia fossem esquecidos.

Por falar em dezessete, esta era minha idade quando escrevi artigo para O Indaiatubano, jornal da minha cidade. Melhor seria confessar cometi um artigo. O primeiro. Com a arrogância de adolescente -- isto é, aquele cara que acha que todos, inclusive os pais, estão errados menos ele -- espinafrava os políticos, principalmente os agrupados na Assembleia Legislativa. Lembro-me vagamente da tese e das frases. Texto curto e grosso. Mais grosso que curto. Faz parte das coisas que preferia não ter escrito. Salvou-me o analfabetismo.

Athayde Puccinelli, escritor, poeta, jornalista arquivava em sua casa os exemplares do semanário que publicava. Pretendia preservar a história da cidade, segundo o único jornal do município naqueles tempos. O problema aconteceu quando trocou a empregada do lar. A nova e operosa faxineira resolveu deixar nos trinques a casa do patrão. Pegou aquela velharia amarelada pelo tempo, amontou-a no fundo do quintal e pôs fogo. Fez a história virar cinzas.

Uma analfabeta poupou-me o vexame de pedir a algum pesquisador da história local que esquecesse delírios de adolescente semianalfabeto em política.

Edgard Steffen ([email protected]) é médico, escritor e membro da Academia Sorocabana de Letras (ASL).