Gasto com educação não é prioridade política

Artigo escrito por Júlio César Cardoso

Por Cruzeiro do Sul

Júlio César Cardoso.

Como sói acontecer, os políticos são exímios engenheiros em encontrar soluções surpreendentes. Para eles não existem trincheiras intransponíveis que a engenhosa fábrica do jeitinho brasileiro não possa solucionar. Assim, quando a corporação política deseja satisfazer os seus camaradas, não importam os métodos a serem aplicados, desde que os fins justifiquem os meios empregados.

Pois bem, o Senado acaba de aprovar em segundo turno Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que desobriga por dois anos os Estados e municípios a cumprirem o percentual mínimo de 25% da receita em educação (Artigo 212 da Constituição Federal). A proposta segue agora para a Câmara Federal.

A justificativa da alteração na lei é dar flexibilidade para gestores municipais e estaduais a anistiar a queda dos investimentos na educação durante a pandemia de Covid-19, período em que as escolas ficaram fechadas e houve maior demanda por gastos em saúde.

Se a moda pegar, a Constituição ficará vulnerável e a rigidez de política fiscal prejudicada.
Triste País vítima da pouca seriedade de seus políticos e governos, onde as regras constitucionais são violadas através de PECs, para satisfazer os interesses de políticas governamentais.

Por outro lado, é uma vergonha a colcha de retalhos em que se transformou a nossa Constituição. Tudo é motivo de emenda constitucional. O que nos leva a induzir que a Carta Magna foi operada de forma açodada..., ou mal elaborada.

Senhores parlamentares, educação é a mola propulsora de qualquer país sério. Relativizar ou tratar com desestimo a educação é manter o Brasil em pleno retrocesso em relação ao conceito de nação desenvolvida. Jamais qualquer restrição de recursos poderia alcançar a educação.

Por que os iluminados parlamentares, que desrespeitam a educação, não propõem que os seus salários e gastos sejam congelados até que o País recupere fôlego financeiro?

Recentemente, a Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou que o piso salarial dos professores brasileiros nos anos finais do ensino fundamental é o mais baixo entre 40 países avaliados. Os rendimentos dos docentes brasileiros no início da carreira são menores do que os de professores em países como México, Colômbia e Chile.

Qual é o estímulo para uma pessoa abraçar, no Brasil, a carreira magisterial, se o País, através de seus políticos e governos, desmerece a importância da educação? Vale mais a pena tentar ser político para desfrutar de excelente remuneração e mordomia, não é mesmo?

O Brasil, por meio de seus políticos e governantes, só encontra soluções de caixa aumentando a carga tributária ou interferindo na própria Constituição para prejudicar, como é o caso, a educação, que representa o lado mais fraco nessa queda de braço.

Agora, para contenção dos gastos públicos nos Três Poderes, ressaltando a ilha da fantasia chamada Brasília, inexiste política fiscal e nem arrocho nas despesas. Mas para zelar pelo fortalecimento estrutural da educação, pode-se inviabilizar recursos. Uma vergonha!

Júlio César Cardoso é bacharel em direito e servidor federal aposentado.