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Poesias visual e verbal juntas em literatura de escritora sorocabana

30 de Maio de 2019 às 23:59

Poesias visual e verbal juntas em ‘Sim’ Eliete Della Violla concebeu todo o trabalho, desde as poesias até as ilustrações. Crédito da foto: Camila Fontenele / Divulgação

Poesia visual e verbal são indivisíveis no processo criativo da escritora, designer gráfica e artista visual sorocabana Eliete Della Violla, que lança seu primeiro livro de poesia. Intitulado “Sim”, a obra publicada com fomento da Lei de Incentivo à Cultura de Sorocaba (Linc) no edital de 2018, será lançada neste sábado (1º), a partir das 19h, no Pupa Eventos Criativos (rua Aparecida, 569, Santa Rosália).

O livro estará à venda no local por R$ 30 e também pode ser encomendada pelo site da autora. Durante o evento de lançamento, haverá performance de Pêu Ribeiro e Natalie Mess, que farão interpretação musical de alguns poemas, enquanto Eliete conduzirá uma intervenção artística utilizando retroprojetor.

“Sim” reúne 20 poemas escritos nos últimos dois anos por Eliete e também ilustrações feitas com carimbos artesanais, confeccionados com borracha escolar pela própria artista, que também assina o cuidadoso projeto gráfico. “Nesse trabalho, os poemas e os desenhos nasceram juntos. [São linguagens que] parecem díspares, mas que fazem tanto sentido em conjunto que acho até difícil descontextualizar”, comenta a artista.

Com 63 páginas e capa dura, o livro perpassa por temas diversos, como vida, morte, o feminino, o corpo e memórias e é dividido em duas partes que se inter-relacionam: “Primeira onda” e “Segunda onda”. A divisão marca dois períodos da produção da artista: num primeiro momento, a intitulada “Primeira onda”, os escritos foram aparecendo “de maneira mais inconsciente”, afirma Eliete, em um caderninho no qual a artista tem o hábito de anotar seus lampejos criativos, sejam em palavras ou em desenhos; já na “Segunda onda”, as poesias nasceram em um período em que a artista se mudou de casa e passou a empreender longas caminhadas pelo novo bairro e, ao chegar em casa, descarregava versos de sua cabeça para uma máquina de escrever. “Essa segunda onda foi depois de tomar mais consciência, encorporado a ideia do ‘Sim’”, afirma.

Como uma espécie de marco que divide a primeira da segunda onda, o “Sim”, título do livro e linha que costura toda a obra, surgiu de estalo, numa releitura de “A hora da estrela”, de Clarice Lispector. Por essa razão, a obra tem como epigrama o fragmento inicial do romance: “Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida...”. “Quando deparei com a frase, percebi que o sim tinha tudo a ver e amarrava tudo que eu estava produzindo, tanto os poemas quanto os desenhos”, revela.

“Sim” tem coordenação editorial de Talita Annunciato, artista e doutora em Letras que assina a apresentação do livro. “Sim’ estreia com maturidade e nos mostra a sensibilidade ímpar de uma escritora como Eliete. Vemos aqui a artista na completude do seu agora, presente e porosa, e a materialidade da poesia sob formas diversas. Lugar das experimentações”, escreveu.

Esse é o primeiro livro da jovem escritora, que tem 27 anos, mas a publicação é fruto de uma trajetória com a palavra iniciada há bastante tempo. Formada em Design Gráfico, Eliete começou publicando seus escritos em um blog em 2008 e, mais recentemente, a partir de 2017, começou a produzir zines (já unindo artes visuais, design e literatura) e participar de feiras gráficas por Sorocaba e região. “Tenho uma ligação muito forte com a palavra. A poesia foi o primeiro acontecimento artístico que me ocorreu na vida, quando eu ainda nem sabia o que era poesia, o que era literatura, o que era arte. Isso já vai fazer dez anos. De lá pra cá, muita coisa aconteceu, outras manifestações se somaram, mas nunca parei de escrever”, explica a artista.

Após o evento de lançamento em Sorocaba, a artista divulgará a obra literária e gráfica para duas grandes feiras de publicações independentes: a Feira Dente, que ocorrerá entre 5 e 8 de junho em Brasília, e Feira Kraft, no Instituto de Artes da Unesp. (Felipe Shikama)

Sim

Sou nascida do sim

que é som e matéria mole.

Nós somos a soma e sim: silêncio

é o que sobra quando se morre.

Um dia estará silêncio

ou serei eu que estarei surda?