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Alegria, alegria

22 de Fevereiro de 2019 às 00:01

Nelson Fonseca Neto

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Eu tenho um pouco de medo da expressão “todo mundo está dizendo”. É a síntese do clichê. Quase sempre é preguiça mental. Não importa o assunto: sempre aparece alguém portando essa espécie de muleta do pensamento.

Não precisa ser muito esperto para notar que as redes sociais turbinaram o “todo mundo está dizendo”. Em se tratando de Brasil, a coisa toda sempre ganha um ar de galhofa. Galhofa involuntária, é bom deixar claro. A pessoa acha que está trazendo ao mundo um pensamento sério, agudo, cirúrgico. Mas não está. Na melhor das hipóteses, ganha uns aplausos do grupinho igualmente avesso a ideias ousadas. Fora disso, cai merecidamente no ridículo.

É que o “todo mundo está dizendo” representa a ausência de noção básica de como as coisas funcionam. Anos atrás, antes das redes sociais, essas besteiras já existiam. É só puxar pela memória as abobrinhas que abundavam nos almoços de famílias ou nas conversas com os amigos. É um erro, portanto, dizer que as redes sociais criaram o “todo mundo está dizendo”. Fica melhor afirmar que as redes sociais alimentaram o monstro.

A lista dos assuntos que cabem no “todo mundo está dizendo” é vastíssima. Pode ser algum assunto de saúde. É o flagelo dos médicos. A pessoa leu em algum lugar que tomar suco de uma determinada fruta cura doenças graves. Ou: que a criança não deve tomar vacina. A vida já é dura. Não precisamos da volta do sarampo.

A pedagogia também sofre. Tem hora que eu acho que o Brasil é o paraíso da educação. Somos o país dos educadores. Hoje, o professor é visto como vilão por muita gente. Não acho ruim que a sociedade discuta qualidade de ensino. O problema é queimar a largada, começar a discussão a partir de um ponto equivocado. Um dia eu reunirei todas as coisas bizarras que li ou ouvi a respeito da atuação do professor na sala de aula.

Claro que a questão do nascimento de um filho não poderia ficar de fora. Há quem diga que o nascimento de um filho muda tudo na vida da mãe e do pai. Que a vida ganha novo sentido. Que o senso de responsabilidade aumenta. Que as madrugadas nunca mais serão as mesmas. Que ser pai ou mãe é a melhor coisa do mundo. Resumindo, hipérboles.

Melhor dizendo, eu achava que eram hipérboles até o dia 18 deste mês, quando o nosso amado filhinho João Pedro nasceu. Eu, que costumava tirar sarro das palavras eloquentes a respeito da paternidade, queimei a língua. Sim, a chegada de um filho muda tudo. Sim, a vida ganha novo sentido. Sim, a responsabilidade aumenta. Sim, as madrugadas ficam picadas. Sim, ser pai é a melhor coisa do mundo.

E eu acrescentaria: a gente fica que nem bobo olhando pra cara do nenê; a gente fica emocionado quando o João Pedro dá uma risadinha; a gente fica feliz com o cocô e o xixi na fralda; a gente aprende a identificar cada barulhinho; a gente dá risada das roupinhas; a gente descobre que a melhor coisa do mundo é sentir o nenê dormindo no nosso colo.

E a gente fica feliz com a felicidade do vovô Beto, do vovô Lauro, da vovó Madu, da vovó Fátima, do tio Gabriel, da tia Mariana, do tio Tiago, da tia Milena, da bisavó Clélia e de todos os familiares e amigos. E a gente fica em paz ao perceber que o João Pedro está rodeado de gente que se preocupa com ele. E a gente acaba ficando inconformado com o fato de que muitos nenezinhos não crescem em paz. A gente -- não tem como não ser revolucionário nessas horas -- quer que o mundo seja justo e que bebês não paguem caro pelo estrago dos adultos.

Sim, o João Pedro é um menininho de muitas sortes. E a maior delas é ter a Patrícia como mãe. A paciência e doçura sem limites. A capacidade de observação. A suavidade dos gestos. A alegria. A mulher que eu amo nos faz, a mim e ao João Pedro, felizes.

A vida é boa.