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O tratamento ortopédico da artrose

14 de Outubro de 2020 às 00:01

O tratamento ortopédico da artrose Artroplastia é indicada para articulações degeneradas. Crédito da foto: Divulgação

Dr. Tulio Pereira Cardoso

Artrose é o desgaste de uma articulação comprometendo cartilagem, membrana sinovial e ossos. Pode ter várias causas, desde o desgaste natural causado pelo envelhecimento, doenças inflamatórias como artrite reumatoide, necroses ósseas, infecções articulares e sequela de fraturas. Existem inúmeras formas de tratamento, algumas visando apenas o alívio da dor e a melhora dos movimentos, enquanto outras tratam a causa da doença.

Temos várias modalidades de fisioterapia, acupuntura, medicamentos analgésicos, anti-inflamatórios e exercícios físicos de baixo impacto. Uma enorme variedade de suplementos de diferentes origens e ações estão sendo cada vez mais usados. A ação mais provável destes suplementos é diminuir a degradação articular. A regeneração de cartilagem é cientificamente questionável. Glicosamina, condroitina, cúrcuma, extratos insaponificados de soja e abacate, entre outros, são tidos como condroprotetores, ou seja protegem a cartilagem que ainda existe mas não conseguem “formar nova cartilagem”. Colágenos têm sido usados com algum sucesso na diminuição da degradação articular.

Já os derivados de ácido hialurônico, elemento normalmente presente no liquido lubrificante das nossas articulações, podem ser infiltrados diretamente nas articulações ou ingeridos oralmente e têm algum papel na melhora dos sintomas. Alguns medicamentos moduladores do processo inflamatório têm ação não só contra a dor, mas contra a própria causa da doença, e são a chave do tratamento preconizado pelos reumatologistas. São imunoterápicos que alteram o curso da doença reumática inflamatória.

Quando a articulação já foi anatomicamente comprometida, apresentando deformidades angulares e marcada limitação dos movimentos, como por exemplo caminhar, temos as alternativas do tratamento ortopédico. Uma toilete articular realizada com o uso da artroscopia, cirurgia menos invasiva, pode auxiliar temporariamente na diminuição da dor, mas não trata definitivamente a artrose e, por isso, sua indicação é questionável. Transplantes de segmentos de cartilagem e osso, tanto do próprio paciente como de banco de ossos, têm indicação em lesões pequenas e sem deformidade.

Osteotomias, cirurgias que mudam o ponto de descarregamento de peso, alterando a angulação dos membros, são feitas com cortes ósseos e fixação com placas e parafusos, mas têm limitada indicação, considerando idade, localização e grau do desgaste. Finalmente, temos as artroplastias, que são cirurgias de substituição da articulação degenerada. Consistem na ressecção da cartilagem e parte óssea desgastada, com o implante de uma prótese composta por diferentes ligas metálicas e de polietileno. Atualmente existem inúmeros modelos e materiais e cada vez mais novas técnicas oferecem o uso de computação, navegação, robotização.

Parece que a tecnologia quer eliminar o cirurgião. Já estão tentando eliminar os motoristas de automóveis e aviões, porque não os cirurgiões? Isso me lembra a opinião do dr. Chitranjan S. Ranawat, renomado ortopedista indiano, radicado há anos nos Estados Unidos, onde é professor na conceituada faculdade Weill Cornell Medical College de New York. Como participou dos projetos de muitas das próteses de joelho e quadril, foi perguntado sobre qual a melhor. Sua resposta era esperada como uma solução para nossas dúvidas sobre escolha, ou seja, aquela por ele apontada seria a melhor prótese.

E assim respondeu: “Você pode ir para o seu trabalho dirigindo um carro de marca não muito conceituada, ou pode ir digamos, numa Ferrari. Ambos devem cumprir o objetivo de levá-lo ao seu destino. Existem diferenças? Sim, mas o mais importante é o motorista.”

Tulio Pereira Cardoso ([email protected]) é doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Fundador do Grupo de Estudos do Joelho de Sorocaba e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho