‘É exame de rotina? Peça a creatinina!’
Médico nefrologista Vinicius Paulon da Costa destaca a importância da prevenção por meio de exames. Crédito da foto: Fábio Rogério (10/3/2020)
Você sabe se está tudo bem com os seus rins? Se a resposta for o fato de não ter nenhum sintoma que aponte o contrário, está na hora de fazer exames, afinal a maioria das doenças que afeta os rins é assintomática. Deixar para cuidar depois, pode ser um caminho sem volta. Com a proposta de orientar a população a ficar de olho nos rins, a campanha deste ano da Sociedade Internacional de Nefrologia (ISN) tem como tema central “É exame de rotina? Peça a creatinina!”. A campanha marca o Dia Mundial do Rim, celebrado em 12 de março, e tem como objetivo reduzir o impacto da doença renal em todo o mundo. No Brasil, quem coordena a campanha é a Sociedade Brasileira de Nefrologia.
De acordo com o médico nefrologista Vinicius Paulon da Costa, coordenador do serviço de transplante renal do Hospital Santa Lucinda, em Sorocaba, 735 pacientes fazem diálise atualmente. No Brasil, são cerca de 130 mil pessoas. “No mundo, 2,4 milhões morrem por ano, por doença renal crônica”, informa o médico. No entanto, é possível evitar essa situação.
Quando o assunto é o rim, a primeira coisa que todo mundo está cansado de saber, é que deve-se evitar o excesso de sal, mas poucos de fato o fazem. “Por dia, o permitido é apenas quatro gramas, ou seja, quatro daqueles sachês pequenos, cota que praticamente é ultrapassada já na hora do almoço”, ressalta o nefrologista. O sal é formado principalmente por cloreto de sódio, presente também nos refrigerantes e sucos de caixinha. Mas quem quer abrir mão? Ter boa alimentação e praticar exercícios são regras básicas para quem quer manter a saúde, mas fazer exame de rotina também é fundamental, frisa o nefrologista.
Vinicius calcula que mais da metade do tratamento é baseado na retirada de sal. Conforme ele, existem cinco estágios da doença, sendo o mais grave de grau 5, que é quando o paciente precisa passar por diálise e tem seu nome cadastrado na fila do transplante. “Por meio do exame de dosagem da creatinina, é possível saber a porcentagem de filtração do rim e dependendo do valor, a gente verifica se há doença e enquadra num estágio.”
Os rins têm muitas funções, dentre elas regular a pressão arterial, “filtrar” o sangue, eliminar as toxinas do corpo, controlar a quantidade de sal e água do organismo, produzir hormônios que evitam a anemia e as doenças ósseas.
A pressão alta, o diabetes e as nefrites são as três principais doenças que podem levar à doença renal crônica. As consequências mais graves são a diálise e transplante. Vinicius afirma que no Brasil, de janeiro a setembro do ano passado, foram realizados 4.617 transplantes renais, conforme a Associação Brasileira de Transplante de órgãos. “Desses, 1.500 foram realizados no Estado de São Paulo”, ressalta. No ano passado, Sorocaba realizou poucos procedimentos, apenas 7, mas a meta para este ano é atender maior número de pessoas.
O médico lembra que dependendo da gravidade de determinada doença, o rim pode parar de funcionar de modo bem rápido.
Inchaço nas pernas ou edema, hipertensão, urina com muita espuma (ou avermelhada) e falta de ar são sugestivos de nefrite, por exemplo. Quem tem histórico familiar de problema nos rins também deve ficar atento. “Mulheres costumam ter muita infecção urinária, mas deve ser investigado, porque há casos que isso ocorre porque há pedra no rim. O cálculo renal tem relação direta com infecção urinária”, diz.
Vinicius pede para que as pessoas reflitam como estão agindo no seu dia a dia para evitar problemas de saúde. “O correto é beber água adequadamente, de 1,5 litros a 2,5 litros por dia. As pessoas não bebem água, esse é o principal problema, e elas acham que não terá nenhuma consequência.”
Com diagnóstico de nefrite, transplante afastou a doença
Robson hoje comemora a nova vida ao lado da futura esposa, Karin. Crédito da foto: Acervo Pessoal
O autônomo Robson Silva, 33 anos, lembra que estava com 25 anos quando ao voltar da praia percebeu que seu pé estava um pouco inchado, mas jamais poderia desconfiar de problema nos rins. Não fumava, não ingeria bebidas alcoólicas, estava sempre bem, por isso acreditava que a saúde estivesse em ordem. O inchaço foi aumentando e a peregrinação aos médicos também. Não identificavam o que ele tinha. Foram muitos diagnósticos e remédios errados, o que piorou a situação, até chegar no limite de, em menos de um mês, Robson pular dos 70 kg de peso para 96 kg, de tanta água no corpo. Assustado, ele vivia sendo encaminhado de médico em médico até que veio o diagnóstico. Assim, iniciou o tratamento com o nefrologista Vinicius Paulon.
Robson estava com nefrite e devido ao estágio avançado, precisou passar por diálise. “Quando soube da doença, cortei todo sal, açúcar, gordura... Fiz tudo certo”, comenta, sobre sua reeducação alimentar. No meio desse processo, perdeu o convênio, perdeu a esposa, e o sofrimento parecia não ter fim.
Teve de mudar de médico, passou a ser atendido na rede pública, até que depois de um tempo reencontrou o médico Vinicius. “Um dia fui avisado que chegou um rim compatível e teria a oportunidade de fazer o transplante. Passei pelo procedimento, mas uns dias depois, deu trombose no rim e acabei perdendo. Não era pra ser meu, eu sabia”, conta.
Religioso, Robson sempre acreditou que o melhor estava por vir. “Tenho muita fé”, disse. E assim teve de retomar a diálise. Alguns dias passava muito mal, mas já tinha quem fizesse companhia e cuidasse dele. “Estava namorando alguém que sabia do meu problema, ela me conheceu assim e é uma grande companheira”, narra, emocionado.
No dia 7 de fevereiro deste ano, “número da perfeição”, como disse Robson, ele conseguiu realizar outro transplante. O rim recebido, de uma pessoa jovem, de 32 anos, foi considerado excelente. O procedimento deu certo e já faz 30 dias que ele está vivendo uma nova fase. “Minha vida foi restaurada”, afirma, feliz. O próximo passo é o casamento com Karin Comporto, marcado para o dia 16 de maio.
Como cuidar dos rins
Responsáveis por funções vitais do corpo, os rins merecem atenção. Quando deixam de trabalhar em toda sua potencialidade, o comprometimento pode ser grande à saúde e, em alguns casos, esses problemas são silenciosos e de diagnóstico tardio. Em casos mais severos, o paciente pode desenvolver doenças renais crônicas (DRC), afetando a filtragem do sangue e todo desempenho da estrutura renal. Além de reduzir o sal e fazer atividade física, o médico urologista Flávio Ordones, membro da Sociedade Brasileira (SBU), Européia (EAU) e Americana (AUA) de Urologia, dá outras dicas de como cuidar desses órgãos, tão importantes:
1. Manter diabetes e pressão sob controle - Diabetes e hipertensão arterial fora de controle aumentam os riscos de desenvolver insuficiência ou doença renal crônica. Obesidade e sedentarismo prejudicam da mesma forma.
2. Alimentação equilibrada - Recomenda-se controlar a ingestão de gordura, introduzir alimentos ricos em vitaminas e fibras na dieta cotidiana. Uma alimentação equilibrada será sempre benéfica aos rins. Pacientes já com alguma disfunção também precisam controlar a ingestão de proteínas.
3. Consumo de álcool - Bebida em excesso não faz bem à saúde. O consumo excessivo está relacionado a diversas patologias, mais comumente hepáticas, mas também renais.
4. Automedicação - A automedicação é um vilão para o sistema renal. Os anti-inflamatórios, em geral, são muito perigosos e seu uso indiscriminado pode levar à perda da função renal.
5. Fumo - O cigarro é outro vilão dos rins. Além de causar câncer de pulmão, ele é o principal fator de risco para câncer de bexiga e está relacionado ao tumor de rim, sem contar o prejuízo que traz ao sistema circulatório como um todo.
6. Desidratação - Beba água. A desidratação também pode acontecer de forma silenciosa. Esportistas amadores perdem, em média, um litro de água por hora em exercícios mais intensos. Beba líquido suficiente para que sua urina saia clara. A urina muito concentrada (escura) alerta que a quantidade de líquidos não está sendo suficiente. (Daniela Jacinto)
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