Declaração de chanceler alemão expõe falhas da COP30
Líder conservador disse que jornalistas ficaram "contentes" por voltar à Alemanha
A declaração do chanceler alemão Friedrich Merz, na segunda-feira (17), sobre a satisfação de sua comitiva em deixar Belém após a COP-30 desencadeou uma crise diplomática e expôs a extrema polarização na política brasileira. O líder conservador europeu afirmou que jornalistas alemães ficaram “contentes” por terem retornado à Alemanha, “especialmente daquele lugar onde estávamos”.
A repercussão no Brasil não foi unânime, revelando divisões ideológicas. A declaração de Merz foi imediatamente classificada por integrantes do governo brasileiro como uma “grosseria” e um ato de “xenofobia”, mas a reação oficial foi contida. Integrantes do governo Lula receberam a ordem de manter o silêncio público para não atrapalhar as negociações climáticas em curso e evitar expor ainda mais as falhas logísticas do evento. Nas redes sociais, o nome de Merz foi amplamente debatido, com alguns usuários criticando o chanceler e outros alinhando-se à sua crítica.
O governador do Pará Helder Barbalho (MDB) rompeu o silêncio oficial para rebater o premiê alemão. Em uma crítica direta, Barbalho classificou a declaração como “preconceituosa”, afirmando que ela “revela mais sobre quem fala do que sobre quem é falado”.
A controvérsia de Merz, no entanto, ecoa as críticas formais que o Brasil já havia recebido da Organização das Nações Unidas (ONU). O secretário-executivo da UNFCC, Simon Stiell, já havia enviado uma carta às autoridades brasileiras (Casa Civil, COP-30 e governo do Pará) exigindo urgência na adoção de medidas de segurança após a invasão de manifestantes na Blue Zone (área de negociação). A ONU também registrou reclamações das delegações sobre falhas na infraestrutura, como problemas de refrigeração e falta de água nos banheiros.
No campo político, a fala do chanceler Merz levou parlamentares e lideranças da direita brasileira a se solidarizaram com ele e a fazer críticas ao presidente Lula e à gestão do evento pelo governo.
Boteco
Lula respondeu Friedrich Merz ontem (18). Disse que ele “deveria ter ido em um boteco no Pará”, dançado e provado a culinária local. “O primeiro-ministro da Alemanha esses dias se queixou: ‘Fui no Pará e voltei logo porque gosto mesmo é de Berlim’. Ele, na verdade, deveria ter ido em um boteco no Pará. Deveria ter dançado no Pará. Deveria ter provado a culinária do Pará. Ele ia perceber que Berlim não oferece a ele 10% da qualidade que oferece o Estado do Pará e a cidade de Belém. Eu falava toda hora: ‘Come a maniçoba, pô’”, disse Lula.
A resposta foi feita durante a inauguração de uma ponte que liga os municípios de Xambioá (TO) a São Geraldo do Araguaia (PA). Lula evitou críticas mais duras ou sérias, como outros políticos fizeram.
O presidente, no entanto, criticou aqueles que não gostaram da escolha de Belém para sediar a COP30. Disse que “tinha muita gente que não queria” e que criticaram uma série de problemas, como os altos preços de hospedagem e de alimentos e bebidas. “Essas pessoas nunca reclamaram da água que pagam quando vão no aeroporto internacional.”
Lula confirmou que irá novamente a Belém hoje (19), para “fazer os acordos que precisamos fazer” na reta final da COP30. (Estadão Conteúdo)