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Internacional

Boris Johnson defende seu futuro em audiência no Parlamento sobre 'Partygate'

Em uma sessão transmitida ao vivo pela televisão, o conservador britânico jurou sobre a Bíblia dizer "toda a verdade e nada além da verdade"

22 de Março de 2023 às 15:30
Cruzeiro do Sul [email protected]
Boris Johnson.
Um relatório provisório da comissão apurou que o ex-primeiro-ministro deveria ter visto que as medidas sanitárias estavam sendo descumpridas em seus gabinetes (Crédito: AFP)

O polêmico ex-primeiro-ministro britânico Boris Johnson mobilizou, nesta quarta-feira (22), suas habilidades de sobrevivência política em um interrogatório de alto risco para seu futuro, respondendo de forma combativa a uma comissão que investiga se ele mentiu, intencionalmente, ao Parlamento sobre o escândalo chamado "Partygate". Em uma sessão transmitida ao vivo pela televisão, o conservador britânico jurou sobre a Bíblia dizer "toda a verdade e nada além da verdade". Abriu sua fala garantindo que, se levou os deputados ao erro, fez sem querer, "com base no que, honestamente, sabia e acreditava na época".

"Eu não cometi nenhum desacato" ao mentir para os legisladores, disse ele. E destacou que seu ex-assessor Dominic Cummings, que o acusa do contrário, "tem todos os motivos para mentir". Em sua defesa por escrito, publicada na véspera, Boris argumenta que seus assessores haviam assegurado a ele que nenhuma norma havia sido infringida durante as inúmeras "reuniões de trabalho" realizadas em seus escritórios no número 10 da Downing Street, sede do Poder Executivo, durante os confinamentos impostos em meio à pandemia da Covid-19.

Defendeu que havia um "fotógrafo oficial" nessas reuniões e que teria sido "ridículo" realizá-las se pensasse que eram ilegais. E que se fosse "óbvio" para ele que eram, também teria sido para outros funcionários de alto escalão presentes, incluindo o atual primeiro-ministro, Rishi Sunak, então ministro das Finanças.

"Não acho que eles queiram acusar os responsáveis de mentir ou me acusar de mentir", disse ele à presidente da comissão, a trabalhista Harriet Harman. Johnson também explicou que em um ambiente de trabalho intenso, com intermináveis jornadas de trabalho para controlar a pandemia, era "impossível" manter dois metros de distância entre as pessoas no edifício antigo com corredores estreitos e salas pequenas. As medidas de distanciamento social foram seguidas "na medida das nossas possibilidades", declarou.

Eventual retorno político 

Johnson foi forçado a renunciar em julho, após uma série de escândalos, incluindo este apelidado de "Partygate" pela imprensa. Desde dezembro de 2021, o ex-premiê garantiu aos deputados, em várias ocasiões, que as regras que ele mesmo impôs contra uma pandemia que deixou 220 mil mortos no Reino Unido foram respeitadas "em todos os momentos" em seus gabinetes.

Mas acabou admitindo sua "responsabilidade" quando uma investigação interna denunciou os "erros de liderança e julgamento" dos "altos funcionários" envolvidos em reuniões com excessos de álcool e falta de decoro.

O político de 58 anos, que por décadas conseguiu resistir a incontáveis crises políticas, foi afastado por seu próprio Partido Conservador por nomear um parlamentar acusado de abuso sexual. O que para muitos foi a gota d'água em três conturbados anos no poder.

Seus aliados, porém, denunciam uma traição e lutam por seu retorno político antes das próximas eleições gerais, que devem acontecer em janeiro de 2025. No entanto, se a comissão de inquérito decidir que ele mentiu intencionalmente, poderia recomendar uma sanção que acabaria estes planos.

Ao final da investigação, toda a Câmara dos Comuns votará em uma possível suspensão do cargo de deputado e, se o período for superior a 10 dias, pode levar a eleições antecipadas no distrito eleitoral de Johnson, no noroeste de Londres, que o deixariam fora da disputa.

Um relatório provisório da comissão apurou que o ex-primeiro-ministro deveria ter visto que as medidas sanitárias estavam sendo descumpridas em seus gabinetes. O documento também divulgou fotos inéditas e mensagens de WhatsApp em que seus assessores tentavam encontrar justificativas públicas para as festas.

As evidências também incluem uma declaração de um funcionário de Downing Street de que Johnson "muitas vezes via e se juntava" a essas reuniões durante o lockdown e "tinha a oportunidade de interrompê-las". "Ele viu o que estava acontecendo e permitiu que continuasse", acrescentou. (AFP)