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Nobel de Física

Trio leva prêmio por descobertas sobre mecânica quântica

05 de Outubro de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: AFP Photo)

O Prêmio Nobel de Física de 2022 foi concedido ontem aos cientistas Alain Aspect, John F. Clauser e Anton Zeilinger. Os três foram reconhecidos pelos trabalhos conduzidos de forma independente que “lançaram as bases para uma nova era da tecnologia quântica”, nas palavras do comitê organizador da premiação. As pesquisas abriram caminho para uma nova geração de computadores e também para sistemas de criptografia invioláveis.

A mecânica quântica descreve o comportamento das partículas subatômicas. Trata-se de um campo da ciência que só começou a ser explorado no início do século 20. O trabalho é baseado especificamente em um dos aspectos mais importantes dessa física, a noção de emaranhamento (ou entrelaçamento) quântico, que acontece quando duas ou mais partículas -- geralmente fótons, as partículas de luz -- se apresentam fortemente conectadas sem estarem fisicamente ligadas, mesmo quando estão a grandes distâncias. Esse estado compartilhado pode estar relacionado à energia das partículas.

O fenômeno foi chamado por Albert Einstein de “uma ação fantasmagórica a distância”. Muitos anos depois, por causa provavelmente dessa característica “fantasmagórica”, o entrelaçamento foi apropriado por místicos de diversas vertentes. Momentaneamente, foi deixado de lado por físicos mais respeitados.

“O emaranhamento envolve correlações mais fortes do que as correlações clássicas”, explicou o físico Luiz Davidovich, professor emérito da UFRJ, ex-presidente da Academia Brasileira de Ciências. “Tanto é assim que, se tentarmos estudar as correlações quânticas com a física clássica, não conseguimos. E isso não é algo trivial. O próprio Einstein tentou explicar o fenômeno com a física clássica, com a hipótese das variáveis escondidas.”

As pesquisas dos laureados partiram do trabalho teórico de John Stewart Bell. Nos anos 60, ele se dedicou a entender como partículas separadas por grandes distâncias -- a ponto de não poder haver uma comunicação normal entre elas -- continuavam funcionando em sincronia. As experiências posteriormente conduzidas por Aspect, Clauser e Zeilinger demonstraram que o fenômeno era real e poderia ter aplicações práticas.

Mas não foi fácil. Quando Aspect, na época um estudante de doutorado, contou a Bell que pretendia realizar o experimento proposto, a resposta do físico mais velho foi surpreendente. “Não faça isso. Você vai acabar com a sua carreira, ninguém mais vai te levar a sério.”

Embora fosse apenas um estudante, Aspect enfrentou a comunidade científica em geral e o próprio Bell para conseguir realizar o experimento. Clauser foi na mesma linha e aperfeiçoou o experimento. Zeilinger avançou ainda mais, trabalhando com estados emaranhados envolvendo não apenas dois fótons, mas vários, a distâncias cada vez maiores. (Estadão Conteúdo)