Economia
BC mantém juros em 13,75% e não indica redução em agosto
Comunicado do Copom prega "cautela e serenidade" no combate à inflação

Apesar da renovada ofensiva do governo e de empresários em defesa da queda de juros, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou ontem a manutenção da Selic em 13,75% ao ano pela sétima vez seguida -- ou mais de 10 meses.
A decisão, que mantém a taxa básica de juros no maior patamar desde janeiro de 2017, já era amplamente aguardada pelo mercado financeiro. Mas contrariando novamente o governo e, desta vez, até mesmo uma boa parte do mercado, o Copom não trouxe no comunicado divulgado após a reunião nenhuma sinalização de corte da Selic no seu próximo encontro -- marcado para agosto. Em vez disso, o colegiado voltou a pregar “cautela e serenidade” no combate à inflação.
“O comitê avalia que a conjuntura demanda paciência e serenidade na condução da política monetária e relembra que os passos futuros da política monetária dependerão da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”, disse o colegiado.
Para integrantes do governo, a decisão de não sinalizar o corte da Selic mostraria um “descolamento” do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e da diretoria da instituição com a melhoria do cenário econômico e com o esforço do governo e do Congresso para aprovar o projeto do novo arcabouço fiscal -- um ponto que sempre pesou nas avaliações do BC. Nesse sentido, segundo eles, a decisão do Copom foi recebida com “incredulidade” e “indignação”.
No governo havia um cobrança para que o BC abrisse a porta para a queda de juros na reunião do Copom de agosto. Caso isso não acontecesse, a expectativa era de aumento da pressão daqui para frente sobre Campos Neto com uma “guerra declarada”.
A Selic serve de referência para as demais taxas de juros no mercado, e seu peso pode ter influência, por exemplo, na decisão de empresários de colocar a mão no bolso ou engavetar projetos de novos investimentos. Não é por outra razão que existe forte pressão do governo para que o BC -- que, por lei, tem autonomia de atuação -- corte os juros, o que já rendeu duras críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Campos Neto, cujo mandato vai até o fim de 2024.
O que sustentava a expectativa de mudança da política monetária era a queda da inflação nos últimos meses -- o IPCA de maio ficou em 0,23%, e as projeções apontam para a possibilidade de uma deflação neste mês, ainda que o resultado no fechamento do ano continue acima da meta -- e a esperada aprovação no Congresso do novo arcabouço fiscal. Também a reforma tributária parece ter ganhado tração no Congresso, apesar da resistência de alguns setores. (Estadão Conteúdo)