Americanas pagam à vista 13 milhões de ovos de Páscoa
Varejista, que está em recuperação judicial, negociou com fabricantes
As compras de Páscoa das empresas de varejo são negociadas ao longo dos 12 meses que antecedem a data comemorativa, mas os pedidos são fechados no primeiro trimestre do ano. Quando o rombo contábil de R$ 20 bilhões e a consequente recuperação judicial da Americanas vieram a público, o diretor comercial da companhia, Aleksandro Pereira, se viu em uma situação inédita.
Ele tinha acordos fechados há cerca de um ano com o fabricante da marca própria de ovos de Páscoa da empresa, além de volumes e preços acordados com indústrias fornecedoras desde novembro. Mas os pedidos ainda não haviam sido emitidos. Foram 15 dias de negociação em que a varejista lutou para manter os volumes combinados.
Entre concessões e resistências, a empresa conseguiu, com pagamentos à vista e antecipados, garantir a compra de 13 milhões de ovos de Páscoa (ovos e produtos temáticos de chocolate). Em uma situação normal, os pagamentos seriam feitos com prazos de 15 dias a um mês após o feriado cristão. Com o volume adquirido, a expectativa da empresa é ter alta no faturamento sobre a mesma data de 2022. A companhia não abre, porém, de quanto foi esse faturamento.
“Temos marcas próprias (de ovos), especialmente as licenciadas -- voltadas para crianças --, que são desenvolvidas sempre com um ano de antecedência. Nas demais indústrias, viemos conversando ao longo do ano e chegamos a um volume e custo em novembro e dezembro. Já estava tudo fechado, mas não havia começado a emissão e o recebimento de pedidos”, conta Pereira.
Ele diz que o principal entrave era o prazo de pagamento. Grandes fornecedoras estão na lista de credores da recuperação judicial da companhia. São R$ 240 milhões em dívidas com a Nestlé, e R$ 14,8 milhões com a Ferrero Rocher, por exemplo. “Foram duas semanas de conversas intensas. Foi como negociar com alguém que estava chateado”, conta Pereira.
Demissões
As Americanas se comprometeram a não fazer demissões em massa até a data da apresentação do plano de recuperação, marcada para 20 de março, de acordo com o Sindicato dos Comerciários do Rio. Advogados da varejista, representantes dos trabalhadores e membros do Ministério do Trabalho realizaram, na sexta-feira, uma rodada de negociações, mediada pela Procuradoria Geral do Trabalho. São cerca de 40 mil empregados e gera perto de 60 mil empregos indiretos.
A varejista deve pelo menos R$ 875 milhões, num cálculo inicial, para mais de 6 mil micro, pequenas e médias empresas que eram fornecedoras de produtos ou serviços. Sem receber as dívidas e com o caixa desfalcado pela inadimplência, algumas já começam a reduzir produção e a fazer cortes no quadro de funcionários. (Estadão Conteúdo)